Reportagem


Jambinai

Ecos do fundo do oceano

NOS Primavera Sound

07/06/2019


Pequena confissão: estávamos no Palco NOS a ouvir Aldous Harding quando ouvimos uma enorme avalanche sonora a causar rebuliço à distância. Olhámos para o telemóvel e tínhamos uma mensagem que dizia apenas “Vem para Jambinai.” Normalmente, fazemos finca pé nas nossas escolhas de reportagem, para o bem e para o mal, mas não estávamos a saber lidar com a pasmaceira que estava a acontecer no palco principal. Já lemos reportagens a atribuir culpa ao som dos Jambinai que se intrometeu num concerto que se queria intimista, mas já estava aborrecido antes dos sul coreanos se fazerem ouvir e não há nada que justifique os minutos exasperantes para afinar instrumentos enquanto ninguém dizia nada.

Corremos para o palco Seat onde a banda avant-rock actuava. Haviam começado com dez minutos de atraso o que cortaria uma canção do reportório ao vivo. Soundcheck, não houve. Ainda assim o que encontrámos foi um público rendido e uma atmosfera que nos apela ao mais gutural que encontramos em nós.

Os músicos estão sentados com os instrumentos que os caracterizam e cujos nomes tivemos de procurar na Wikipédia.  Hegeum é uma espécie de violino, geomungo a citara em esteroides em tons graves, e piri e taepyeongso os instrumentos de sopro que o guitarrista tocava. Antes de chegarmos anunciaram que o novo álbum, ONDA, tinha acabado de ser lançado e que o que agora ouvíamos era a sua faixa homónima.

Não fazemos ideia se é uma coincidência linguística, mas todas as descrições que nos ocorriam para descrever o concerto navegam nos campos semânticos do oceano. O post-rock lúgubre de Jambinai soa ao fundo do mar, à calma e à tempestade, aos ecos que só poderiam vir da fossa das Marianas. É fúria recalcada e esperança desmedida. É toda a descrição lírica que eleva o prosaico de uma reportagem à imagem fiel daquilo a que assistimos. É o mesmo problema que Mogwai. Faltou-lhes chuva.

E só para reiterar: não houve soundcheck.  Ou são incrivelmente sortudos, ou talentosos. Não se aponta uma flauta de madeira a um microfone de voz e se espera pelo melhor. E, no entanto, que concerto imaculado.

Ou quase. “Thank you for being here and for inviting us to this great festival. We’re still very sad because we were delayed at the airport for four hours, so we had to skip one song,” explicavam.

Não ficaram mais tristes que nós que nem estávamos para os ver e agora não queremos outra coisa.

Lembrete à navegação: aos anos a que vimos ao NOS Primavera Sound só uma coisa é verdade; o melhor deste festival são os concertos memoráveis das bandas que nem conhecíamos.

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Jorge De Almeida

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