Reportagem


Stormzy

A máquina grime é impossível de parar

Super Bock Super Rock

21/07/2018


Tivesse Stormzy feito parte do alinhamento do segundo dia do Super Bock Super Rock, aquele em que o público fiel do hip hop quase esgotou o recinto, que não teria ficado pedra sobre pedra na Altice Arena. O south london boy estreou-se ontem em Portugal, no último dia do SBSR, que nos parece ter sido o com menos gente e no qual acreditamos que a maior parte dos presentes nunca deveria sequer ter ouvido a palavra grime. Ainda assim o rapper conseguiu dar um dos concertos mais explosivos do festival.

Comecemos então pelo início ou pelas palavras de Stormzy “alright, first things first, I’ve been putting in the work, I’m a rebel with a cause”. É com esta “First Things First” de Gangs Signs & Prayer que Michael Owuo Jr começa por explicar a Lisboa este fenómeno chamado grime, que nasceu nos bairros do sul de Londres ao virar do século, um rap sujo de sotaque forte, debitado sobre beats rápidos de electrónica e que hoje está a conquistar o mundo.

O seu maior embaixador neste momento será Skepta que arrancou o estilo aos subúrbios ao vencer um Mercury Prize e que se fez ouvir minutos antes nas colunas, no aquecimento em que DJ TiiNY nos obrigou a estudar bem a lição, passando entre várias outras coisas a demolidora “Shutdown” que no ano passado arrasou o Primavera Sound no Porto, enquanto ao mesmo tempo podíamos ler no ecrã alguns recados retirados às letras de Stormzy.

“All my young black kings, rise up man, this is our year”, “This is God’s plan, they can never stop this”, “Who’s gonna stop me? You? Him?”, nós respondemos: ninguém, a máquina grime está a alastrar a todo vapor, impossível de parar.

Existe no grime a mesma agressividade que encontramos muitas vezes no hip hop, rimas afiadas, cuspidas com a raiva de quem não vai mais tolerar ser pisado, renegado, pela sociedade, pelos seus. Mas o grime, diz-nos Stormzy, “is not all about danger, mosh pits and all of that crazy” e pede antes ao público que dance, que se divirta, esta é a sua estreia em Lisboa e quer fazê-la memorável, para si e para todos nós.

“Energy, energy, energy” são as palavras de ordem que mais lhe ouvimos durante a noite e o público responde com entusiamo, com vários mosh pits expontâneos, como aliás todos deveriam ser (uma dica para todos os artistas que ultimamente pedem mosh pits à plateia, só perdoamos isto ao Anderson .Paak que depois do seu último concerto pode pedir-nos o que bem entender).

Uma energia que não baixou nem naquele que poderia ter sido o momento what the fuck? da noite quando Stormzy nos trouxe o hit “Shape Of You”, no qual já nem nos recordávamos que tinha colaborado com Ed Sheeran. Prova de que aquelas barreiras que na nossa cabeça teimam muitas vezes em separar estilos musicais, caem facilmente por terra quando os ritmos e as boas energias tomam conta de nós.

Stormzy despede-se por agora de nós mas com a forte promessa de voltar. No final desceu do palco e demorou-se em muitos abraços sentidos com o público. O rapaz que nos canta “I’m so London, I’m so south” leva agora consigo uma parte desta Lisboa, que pode até nem ainda perceber o que é o grime, mas que se sabe divertir como ninguém.

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Vera Brito

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