Do coração do Minho, os Ermo estrearam-se em 2012 com EP homónimo, seguido do longa duração “Vem Por Aqui” com o carimbo NOS Discos e do disco conceptual “Amor Vezes Quatro“. Intervencionistas, cedo foram associados à corrente revivalista da portugalidade, que assumia no início da década várias facetas.

O interesse pela electrónica e o inconformismo do duo bracarense viria a materializar-se em 2017. Num passo arriscado, editam “Lo-fi Moda” no pico do Verão, um álbum que «retrata o comportamento humano, engolido pelo mundo digital. Feito para intrigar, apresenta 9 faixas sobre dois humanos do lado de lá do espelho. (…) Funciona belissimamente como uma metáfora para vaidade, auto-validação e narcisismo», lia-se em nota à imprensa.

Comprovou-se um momento memorável da música nacional, sagrando-se disco nacional de 2017 para a imprensa especializada e seduzindo os críticos de música mais exigentes. Ao vivo, contrastam o som elaborado com uma presença minimalista e, simultaneamente, soberba.

Mas o palco aos artistas, segue a apresentação da obra-prima, faixa por faixa e pelos próprios Ermo. Recomendamos que se acompanhe com audição do disco, seguindo-se a leitura desta entrevista ao Arte-Factos »

Foi a primeira faixa que fizemos para este disco ou, pelo menos, a primeira que fizemos com o intento de experimentar algo novo. Fala precisamente da vontade de um salto para um sítio diferente. A punchline foi algo que surgiu quase por acidente, mas que agarrou na perfeição o que queríamos transmitir.

Foi uma música que teve diferentes versões ao longo do processo de composição. Acabámos por fechá-la quando fizemos o refrão e a referência ao tema do Criolo. Termos sublinhado que estávamos a ouvir a “Não Existe Amor em SP” vem com um espectro de vários significados que os ouvintes podem perceber à sua maneira. Com isto, queríamos também evocar a letra do Criolo num único verso.

Tínhamos uma versão rough do beat há muito tempo; quando quisemos fazer uma track mais nervosa lembrámo-nos de pegar nesse projecto e nasceu o primeiro esboço da música final. Curiosamente, foi uma das músicas que fechámos com mais facilidade e tivemos alguma sorte com o glitch final, que partiu de uma brincadeira.

Num registo mais bem disposto, surgiu a ideia de samplar a banda sonora do Digimon World para a PS1. Depressa descobrimos que o sample dialogava muito bem entre diferentes partes e que iríamos conseguir preencher bastante espaço melódico com 4 ou 5 diferentes trechos. É uma música sobre o filho de um casal que conhecemos na Suécia, um bebé particularmente sério chamado Django.

Samplámos a “Cannabis Sativa” de Nik Raicevic, daí o nome. Talvez a track mais 101 do disco, para nós. A letra tem uma série de referências e temas que queríamos incluir no Lo-fi Moda e é uma música bastante transversal, que pode ser tocada de várias maneiras e soar bem.

Foi uma letra que escrevemos na residência artística no gnration e que posteriormente trabalhámos numa direcção completamente diferente durante os meses seguintes. Começou por ser uma track downtempo e pesada e evoluiu para um arranjo mais fluído e jingado. Queríamos que soasse a púrpura pálido.

O momento mais solene do disco, e a única faixa em que falamos directamente sobre fazer música. É uma música auto-reflexiva e daí quisemos que fosse lacónica, que houvesse espaço para referências de melodia, mas que fosse o silêncio a dirigir o tema. Não tem nome porque é um aparte dentro deste disco.

A única música escrita de rajada, na noite anterior a entrarmos em estúdio para gravar. Precisávamos de mais um tema e decidimos fazer uma música sobre isso mesmo, sobre o void final de acabar este disco e deixar o último ingrediente mesmo no fim.

Escolhemos este sample enquanto estávamos no Brasil e chegando a Braga, começámos a trabalhá-lo. Foi também uma música que se desenrolou facilmente, e onde deixámos mais transparecer a nossa concentração na produção deste disco e falar um pouco sobre conclusões.