Reportagem


NOS Alive

Resumo do 1º dia

Passeio Marítimo de Algés

12/07/2018


Uma semana depois, aproveitamos para fazer o resumo de três dias de NOS Alive. Este é o primeiro, a ligação para o segundo e terceiro está no fim do artigo.

Prolegómeno de um sonho:

No primeiro dia de Dezembro de 2017 a pipoquinha colectiva da internet rebenta: Os Pearl Jam são anunciado como a primeira confirmação do NOS Alive. Seria a sexta vez que a banda actuaria em Portugal e a primeira em oito anos. Pelo nossa saúde, quase que jurávamos a pés juntos que a banda de Eddie Vedder vem a Portugal ano sim, ano não. Afinal, não vinham cá desde 2010 e as saudades acumularam.

Os bilhetes de dia 14 esgotam em tempo recorde. Os passes de 3 dias não durariam muito mais. O cartaz ainda estava despido de bandas, mas o público já estava garantido.

Spoilers: isto é um problema.

Palcos secundarizados

Em ano de escolhas seguras para os nomes que figuram no cartaz, também nós optámos por nos dedicar a não inventar muito nas nossas escolhas. O ano passado havíamos dedicado mais tempo ao palco secundário e chegámos a passar lá um dia. Este ano, no entanto, só pudemos aproveitar a o início tardio de Miguel Araújo para ouvirmos Juana Molina e o facto de Miguel Araújo num palco principal de um festival ter parecido uma boa ideia a alguém para ouvirmos Jain.

Da primeira, recordamos o drone-rock que a espanhola trouxe consigo. O início foi algo complicado e de uma lentidão sofrível, mas quando a engrenagem entrou no eixo certo conseguimos desfrutar do concerto da espanhola. Não tanto como o baixista da banda, diga-se, mas nós achamos que ninguém no mundo gosta tanto de algo como ele gostou de ali estar. Deixámo-nos estar enquanto a voz de Juana Molina ao ritmo da guitarra nos hipnotizava e agradecemos termos dado uma oportunidade ao concerto.

Jain viria com a sua electrónica indie mudar o ambiente do Palco Sagres. Já discorremos sobre o concerto na nossa reportagem, mas saudamos a coragem com que sozinha enfrentou a multidão  e pôs toda a gente a dançar. Bryan Ferry estava a entrar no Palco NOS, mas, com pena nossa, a francesa não nos deixou ir.

Não deixou Jain, nem deixou a oportunidade de ver de perto Wolf Alice, a banda que, imagine-se, não figura nem um lobo, nem uma Alice. A banda voltou ao local onde foi feliz para distribuir os beijos que não apagou. O roque dos britânicos corre em alcateia com Portugal e esperamos vê-los um dia no Coliseu. Não interessa qual.

Voltaríamos ao palco secundário apenas uma vez mais no segundo dia e por ainda menos tempo.

Campos semânticos são critérios de cartaz

Alguém algures deve ter achado muita graça aos Snow Patrol entrarem em palco antes do Arctic Monkey. Percebem? Ártico, neve? Só pode ter sido isto, porque de alguma forma os Nine Inch Nails também lá estavam.

No fim do concerto de Wolf Alice dirigimo-nos para o Palco Principal onde nas telas ao lado do palco passava “Sin City: o concerto.” Os NIN tocavam à luz do dia temas bem mais roqueiros do que nos recordávamos desta banda de laivos industriais e electrónicos.

And the crowd goes mild.

Foi estranho e um sinal do que estaria para vir, mas as manifestações de entusiasmo do público do NOS Alive eram poucas e espaçadas. Nada em conformidade com as performances em palco. E diga-se, em boa verdade, havia blocos de festivaleiros que pareciam estar a fazer a sua própria festa. O que explica a bipolaridade nas reportagens a estes concertos e o feedback que tivemos a quem perguntámos “ então, que achaste?”. A diferença de onde se estava em relação ao palco ditou mais do que seria de esperar o quanto gostaste dos concertos. Talvez o caso de maior contraste tenha sido com os Blossoms que só metade dos festivaleiros ouviu com uma mistura de som capaz.

Mas o público…

Oiçam, há quem diga que NIN foi incrível e nós reconhecemos que isso possa ser verdade. Quem paga o bilhete tem o direito a ter a postura em festival que quiser. Ouve o que quer, como quer, bate ou não bate palmas.

Posto isto, um concerto é uma tarefa conjunta de banda e público. Se a banda está em modo #dartudo e o público reciproca em apatia, o ambiente desmoraliza. A meio do concerto a banda de Trent Reznor entra em piloto automático e toca o que tem a tocar, recebe o cheque e vai embora. Nós nem sequer julgamos. Por muito que gostemos de ouvir “Copy of a” ou “Hurt,” já tivemos melhores experiências com headphones no conforto do lar. Apostamos que os Nine Inch Nails também.

Já os Snow Patrol tiveram mais sorte. Leiam outra vez porque estamos prestes a escrever que o concerto de Snow Patrol foi melhor do que Nine Inch Nails. Eu entrego o meu cartão de membro d’A CENA® à saída.

Não tinha como não ser. A pop rock à la Radio Comercial dos Snow Patrol garantiu-lhes que seria impossível fugir-lhes aos êxitos. Ajuda que a banda também faça a sua parte e interaja com o público. O alinhamento é bem pensado e despacha os temas mais recentes por entre os clássicos; cria habituação para o futuro e não causam estranheza no momento. Algures no multiverso há uma versão deste mundo em que os Snow Patrol estão trocados com os Coldplay. Não lhes calhou essa sorte na nossa versão, mas reconhecemos que este rock inofensivo tem o seu mérito.

O melhor chega no fim com o concerto de Arctic Monkeys a encerrar a horas de gente que trabalha o palco principal. Última vez que tal acontece.

A quantidade de t-shirts alusivas à banda de Sheffield fazia prever uma adesão em massa ao palco principal. E foi o que aconteceu. Quando Alex Turner entra em palco na sua figura reminiscente do nosso Legendary Tigerman , se este usasse as mesmas calças que o pai em 1962, o NOS Alive já está conquistado. O que marcaria este concerto é a discrepância acentuada pela recepção aos novos temas. Fora “4 Stars Out Of 5”, os temas lounge-subversiva fizeram pouco pelos ânimos dos festivaleiros. Seria a energia dos temas da adolescência, nossa e da banda, a motivar os pontos altos. O que talvez não seja muito justo; “Tranquility Base Hotel + Casino” é um bom álbum e ao vivo tem o mesmo tipo de linhas de baixo que deram um renovado apreço pela banda aquando de AM. Talvez o tempo para deixar as canções criar raízes seja mesmo o que lhes falta.

Terminou assim para nós o primeiro dia. Achá-lo-íamos atípico, mas contávamos com os The National e com os Queens of The Stone Age para elevar a fasquia no dia seguinte.

Nota: Por imposição dos artistas não nos foi permitido captar fotografias de Arctic Monkeys e Nine Inch Nails.

Reportagem do 2º dia

Reportagem do 3º dia

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Jorge De Almeida

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