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Why Him?
Título Português: Porquê Ele? | Ano: 2016 | Duração: 111m | Género: Comédia
País: EUA | Realizador: John Hamburg | Elenco: Bryan Cranston, James Franco, Megan Mullally, Keegan-Michael Key

Ned Fleming não podia estar mais satisfeito com a família que construiu, mas está a atravessar um momento particularmente difícil no que toca a negócios. A gráfica que gere e que outrora era procurada por clientes de peso está rapidamente a ser ultrapassada por modelos digitais, colocando-o numa posição frágil que ameaça todo o status quo que protege com a garra de um tigre esfomeado. As coisas não melhoram quando descobre que a sua filha mais velha, uma exemplar estudante universitária, arranjou uma cara metade e convidou todos a passar a época natalícia junto dele. O que Ned ainda não sabe é que o novo namorado da filha é um magnata dos negócios digitais sem qualquer filtro social e uma propensão para o desconforto sem paralelo.

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Não podemos acusar este filme de originalidade, na verdade, é de gabar a coragem de um tipo que decide levar a cabo este projecto depois de já ter realizado Meet the Parents (Um Sogro do Pior). Não nos trás nada de novo mas junta no grande ecrã algumas das maiores figuras da comédia contemporânea e um actor que suspeitava estar a ser empoleirado pela excelente personagem que desempenhou em Breaking Bad. Para grande surpresa minha, o filme acaba por ser bastante divertido e apesar dos seus momentos, nunca chega a ser tão ridículo como os seus contrapartes que estrearam nas últimas semanas. Nunca deixamos de acreditar nas personagens, todos os arcos são pautados por uma sinceridade bem-vinda e conseguimos atravessar toda a história sem revirar os olhos em descrença, aliás, assistimos a uma coisa rara, a facilidade com que nos ligamos a algumas das situações. Claro que há linguagem vulgar, ficava bem chateado se não houvesse, mas não me lembro de nada relacionado com flatulência e a imaturidade da personagem principal chega a ter uma razão de ser, o que já é um elemento de louvar.

É fácil descartar a prestação dos actores em filmes deste género, mas sem eles nada disto podia resultar e são interpretações assim que nos lembram porque é que James Franco continua a ser relevante. Conseguiu captar na perfeição um tipo irritante mas com bom fundo, que é impossível detestar a não ser que decida casar com a nossa filha e esse número de equilibrismo é digno de um Cirque du Soleil. Também não nos podemos esquecer que na escrita encontramos, ao lado de John Hamburg, Jonah Hill e quer-me parecer que é a âncora que não deixa o barco fugir.

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Quando pensávamos que Bryan Cranston era um one hit wonder chegamos aqui e lembramo-nos daquilo que sabe fazer melhor: comédia. Depois de Breaking Bad, Cranston nunca conseguiu surpreender com mais nenhuma personagem, já teve oportunidade para o fazer mas sempre falhou, talvez com a excepção de Trumbo, mas mesmo assim, sempre ficou na sombra da personagem que desempenhou durante cinco temporadas. O problema talvez tenha sido um excesso de necessidade em distanciar-se, uma vontade demasiado notória de continuar relevante, mas a verdade é que quando essas preocupações são atiradas pela janela, tudo parece mais fluido e orgânico. Não tenho problemas em afirmar que este é o seu melhor desempenho desde Walter White e dá um prazer enorme vê-lo a divertir-se com a falta de pressão em cima deste projecto. Ainda dois grandes destaques, o primeiro para a maravilhosa Kate Mulligan que, para além de continuar belíssima, tem um timming cómico perfeito e o segundo para Keegan-Michael Peele que é detentor do maior leque de personagens a viver dentro dele. A troca de diálogos entre as personagens parece tão orgânica que tive de pesquisar mais sobre o filme e percebi que foram rodadas quatro horas de filme às custas da quantidade de improviso envolvida.

Não é um filme hilariante mas é bem divertido e não consigo deixar de pensar nele como uma tradução moderna de clássicos do género, como Que Paródia de Natal ou Antes Só Que Mal Acompanhado que, para além de serem comédias disparatadas, são tão quentes e confortáveis como uma lareira na consoada. Às vezes é preciso abraçar o piroso bem intencionado, porque faz muita falta.


sobre o autor

Jose Santiago

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