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BOOKSMART
Título Português: Booksmart - Inteligentes e rebeldes | Ano: 2019 | Duração: 102m | Género: Comédia
País: Estados Unidos | Realizador: Olivia Wilde | Elenco: Kaitlyn Dever e Beanie Feldstein

As comédias coming of age são uma autêntica instituição do cinema americano, que delas está pejado. Poderíamos enunciar uma série deles, desde a parvoíce gratuita de American Pie ao mais experimental Dazed and Confused, e no entanto Booksmart prima pela diferença, dado que parte integralmente da perspectiva feminina. Numa primeira fase, acaba essa por ser a sua característica definidora; neste caso, Olivia Wilde (em estreia na realização) arriscou na premissa feminina, adocicada pela escolha de protagonistas não-normativos, o que poderia, nestes tempos de especial sensibilidade, revelar algum oportunismo — por ser, precisamente, uma decisão segura que lhe granjearia consensualidade. Mas, felizmente, o filme resulta e tem sucesso a partir dessa decisão, ultrapassando-a sem a glorificar.

A sua narrativa, traços largos, é mais do mesmo: chega o final do ensino secundário, que é final de uma fase na definição do indivíduo, e portanto com uma espécie de clivagem com o antes da infância e o depois, num futuro cheio de possibilidades. As duas protagonistas apercebem-se que os seus colegas rebeldes — e não tão estudiosos — chegam também à Ivy League; e isso é suficiente para abalar o seu mundo e fazê-las experimentar o outro lado da vida estudantil ao qual foram alheias. 

Estruturalmente, não há nada de especialmente notável a apontar: este registo narrativo segue uma fórmula cuja conclusão será algo previsível. Portanto, o interesse reside no miolo do filme, na saga das duas amigas numa derradeira noite de secundário, e na soma dos pequenos momentos que perfazem o todo da jornada. E ainda que nem todos sejam brilhantes — sem nunca o serem verdadeiramente maus também —, segue-se sempre uma toada simpática, e dadas as condicionantes já mencionadas, tudo parece ser mais fresco que nas propostas habituais do género. 

Booksmart não é especialmente memorável. Dele vamos guardar alguns momentos, e a química entre as duas protagonistas — mas, acima de tudo, é um filme positivo e divertido e que se insere numa fase de mudança social no que toca ao papel e à representação da mulher. Olivia Wilde esteve bem (mas contando com um fabuloso elenco na produção executiva, de Adam McKay a Will Ferrell, dificilmente isto corria mal), e aguardamos os próximos trabalhos. 


sobre o autor

Alexandre Junior

Interesso-me por muitas coisas. Estudo matemática, faço rádio, leio e vou escrevendo sobre fascínios. E assim o tempo passa. (Ver mais artigos)

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