André Carvalho

Lost in Tranlation – Vol II
2023 | Clean Feed Records | Free Jazz

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Em “Lost in Tranlation – Vol II”, André Carvalho prossegue a sua viagem pelo mundo das palavras intraduzíveis com um segundo volume. A temática das palavras intraduzíveis, começou como uma mera curiosidade, mas rapidamente se tornou algo fascinante e, por isso, fazia todo o sentido continuar o projecto. Nesta sequela, Carvalho volta a reunir o trio composto pelo saxofonista José Soares e pelo guitarrista André Matos, seus colaboradores habituais. Terá 7 composições do líder e uma de André Matos, onde a improvisação, a espontaneidade e a exploração tímbrico-textural estão no centro do som do trio e irá incluir composições inspiradas em palavras de línguas como o Farsi, Hausa ou Finlandês.

#1 Mencolek

O tema que abre o disco é inspirado numa palavra Indonésia que se refere a algo que todos nós já fizemos algures na nossa vida, nomeadamente aquela brincadeira de bater no ombro de alguém que está de costas e fingir que não fomos nós. E é exactamente essa sensação de brincadeira que queria transmitir. O tema começa com uma improvisação livre que segue para o tema que é um conjunto de frases tocadas em rubato e de forma bastante solta. Pelo meio há uma nova improvisação, voltando o trio à última parte da melodia, terminando de uma forma bastante jocosa. Este foi um dos primeiros temas que escrevi para o novo álbum.

#2 Tagumi

Este tema é também o primeiro single do novo álbum e é inspirado numa palavra Hausa que significa pousar a cabeça sobre a mão ou joelho num acto de reflexão e pensamento profundo. É um tema bastante simples, havendo uma melodia que se repete e se modifica ao longo do desenrolar do tempo. Tudo de uma forma muito lenta e espaçada, sugerindo reflexão e introspecção.

#3 Poronkusema

Este é o único tema que não é de minha autoria, tendo sido escrito pelo guitarrista André Matos. É inspirado numa palavra filandesa bastante engraçada e que terá sido útil provavelmente noutros tempos. Poronkusema significa a distância que uma rena consegue percorrer até ter de urinar e foi usada noutros tempos como uma medida oficial para medir distâncias. É muito curioso descobrir palavras que são completamente únicas e muitas vezes específicas a determinadas áreas geográficas.

#4 Zhaghzhagh

Zhaghzhagh é uma palavra persa que significa bater os dentes ou por frio ou por algo que nos causa uma intensa raiva. Esta faixa na verdade não tem música escrita, gravamos simplesmente com o desafio que lancei de fazermos uma improvisação com uma palavra em mente. Este foi o resultado!

#5 Gurfa

Este foi também um dos outros primeiros temas que escrevi para o novo álbum, escrito não muito depois do primeiro volume ter saído. Gurfa é uma palavra árabe que significa a quantidade de água que cabe numa mão. É um tema que começa com uma melodia tocada pelo saxofone, melodia essa tocada de forma bastante livre. É um tema que tem um motivo melódico que se vai desenvolvendo, num ambiente que me remete para algo bastante exótico. Este será talvez o tema que estará mais numa linha mais jazzística, onde há uma melodia e solos.

#6 Gökotta

Esta bonita palavra sueca significa acordar de manhã bem cedo para sair de casa para ouvir o primeiro chilrear dos pássaros. Quis transmitir de alguma forma esta beleza e singularidade com uma melodia e harmonia intimista, terminando com um momento exploratório que revisita partes da melodia inicial.

#7 Pana Po’o

Pana Po’o foi outro desafio que coloquei durante a gravação de gravarmos algumas improvisações livres com uma dada palavra em mente, neste caso uma palavra havaiana que significa o acto de coçar a cabeça de forma a ajudar a lembrar algo que está esquecido!

#8 Waldeinsamkeit

O último tema do álbum é inspirado numa palavra antiga alemã que significa o sentimento de estar sozinho numa floresta. O tema arranca com uma pequena improvisação textural, seguida pela guitarra a tocar a melodia. Os vários instrumentos vão-se juntando à medida que a melodia é desenvolvida. É um tema com bastante espaço remetendo para a ideia de imensidão de se estar sozinho numa floresta. Quando ouvi os vários temas que gravamos, senti que este seria a opção perfeita para fechar o álbum, com um sentimento intimista, textural, exploratório e ao mesmo tempo lírico, sendo estes alguns dos adjectivos que me vem à cabeça sempre que quero caracterizar a sonoridade do trio.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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