Chico Bernardes lançou no final de 2019 o seu álbum homónimo pela editora brasileira Risco – casa de nomes como Maria Beraldo, O Terno, Ana Frango Eléctrico e Sessa, exibindo um registo folk estimulado por letras e melodias de carácter sentimental e introspectivo. Em baixo explica-o faixa-a-faixa e, em Janeiro e Fevereiro, andará por Portugal a apresentá-lo ao vivo, conheçam as datas aqui.

Escrevi “Distante” quando estava no último ano do colégio, foi minha segunda música. Ela trata de um amor platônico que, em contraponto ao plano imaginário, nos devaneios, não está próximo do eu-lírico, no plano real. De fato o vivi platonicamente, por mais que não tenha se concretizado, ao final.

É uma musica que trata de mais de um amor que já vivi, e sobre minhas sensações sobre o que considero ser “estar apaixonado” por alguém. Foi a música que mais gostei de gravar, tanto em casa quando arranjei as primeiras demos, como no estúdio. Tentei reproduzir os arranjos que me vieram a cabeça, um dia, no banho. E até que ficou parecido.

Essa foi minha primeira composição. Me lembro de estar começando a tocar violão, testando afinações, e cheguei nos acordes. Em paralelo, o Brasil se encontrava em um momento bastante agressivo e dividido, politicamente, gerando o tema pelo qual contorna a letra da canção. Optei por gravá-la em violão e voz, da maneira como foi feita, para manter esse registro, onde tudo começou.

Ao que a letra dá por perceber, essa canção trata de um astronauta que, após buscar o que mais queria, no espaço, se dá conta de que o que mais lhe significava estava consigo na terra, por todo o tempo. Em maneiras menos literais, escrevi a letra pensando nas pessoas que buscam com tanto enfoque e perseverança por seus objetivos, querendo sempre mais e nunca se contentando, que se esquecem de olhar ao redor para as coisas mais simples e valiosas da vida, coisas que já têm. Em termos de gravação, foi minha primeira experiência com rolos de fita magnética. Bem bacana.

Optei por gravar essa apenas em voz e violão, da maneira como foi feita, pois assim como “Vago”, foi uma das minhas primeiras composições, e das primeiras que toquei sozinho, ao vivo, quando ainda estava na escola. É mais um registro referente a amores que vivi. Mais de um, a canção se aplica aos meus romances a dois que chegaram ao fim, e, por mais que dolorosamente finitos, me trazem da melhor saudade.

Reza a lenda que o violão que utilizei para gravar essa canção pertenceu, por um curtíssimo período, a Gilberto Gil. Verdade ou não, é um violão abençoado. Essa música foi a primeira que gravei assim que entrei no estúdio, então pode ser vista como minha primeira experiência a sós em estúdio. Quanto ao enredo proposto pela letra, sigo perdido (e tudo bem).

Essa canção encontra-se em um lugar um pouco diferente das demais. Baseando-me no conto “O Espelho”, de Machado de Assis, junto a uma experiência de transformação que vivenciei na pele dentro de uma crise existencial, escrevi a letra. Foi uma experiência de gravação bem interessante, também.

Acho que é a mais sincera que já escrevi. De peito aberto, botei para fora um sentimento dolorido e forte, em forma de música. Quando estou a cantá-la sozinho, em casa, ainda me arrepio, de vez em quando.

Escrevi essa em um final de ciclo, uma fase onde muito do que havia construído no passado estava por acabar, enquanto o futuro só me trazia direções incertas. Na gravação, me utilizei do harmonium de Tito, um grande amigo, que o trouxe da Índia debaixo do braço. É um dos instrumentos mais encantadores que já ouvi.

Escrevi essa em um determinado momento em que me vi um náufrago dentro de meus próprios pensamentos. Em momentos mais negativos, ela sempre acaba por me puxar para cima de novo. Gosto de tocá-la em instrumentos de 12 cordas.