The Smashing Pumpkins

ATUM: Act I
2022 | Martha's Music, Thirty Tigers | Synthpop, Rock alternativo

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O ser humano tem sempre reacções estranhas a surpresas. Ficamos todos atrapalhados, dizemos que não era preciso e lidamos com o constrangimento. Nestes dias foi o Sr. William “não me chamem Billy” Corgan a apresentar-nos uma surpresa: a primeira parte da sua prometida e semi-aguardada nova trilogia de título perdido em tradução e difícil de levar tão a sério por cá: “ATUM.” E sentiu-se bem, em uníssono, todos os fãs dos malhões da década de 90 a dizer que não era preciso.

O “Act I” deste “ATUM” pode acabar por abater as já baixas expectativas que existiam para todo o álbum, a tal saga que segue o conceito de “Mellon Collie” e “Machina.” Sim, as expectativas já não são muito altas. Desde discos auto-indulgentes, até mesmo à sua NWA onde dá o título Mundial a renegados do card baixo da WWE, parece mesmo que tudo o que Corgan faça seja para exercitar e afagar o próprio ego. E nunca a presença dos membros fundadores James Iha e Jimmy Chamberlin num novo disco dos Smashing Pumpkins devia ser tão irrelevante. Contudo, lá vamos nós com algum positivismo justificado: “Beguiled,” que não consta neste disco e estará na segunda parte, até é um single que se safa bem; o anterior “CYR” podia sofrer do “síndrome do single” e estar repleto de filler, mas tinha uma excelente faixa-título viciante a sugerir que a experiência com o synthpop não tem que ser automaticamente má. E esbarramos com uma primeira parte deste “ATUM” que afinal é um bom aglomerado de nada.

Se “CYR,” com todos os seus excessos, ainda tinha algum certo encanto, não parece chegar a “ATUM: Act I,” onde a sua electrónica e synthpop nunca se conseguem erguer além da sugestão de que isto são mesmo sobras do disco anterior. E há boas canções por aqui, boas fusões do rock com electrónica, que acabam por se perder pelo meio do aborrecimento e da insistência de Corgan em chegar-se à frente, de todas as formas, com sintetizadores insípidos ou a trocar a bateria dotada e com alma de Chamberlin por batidas ocas. A falta de um tema verdadeiramente orelhudo também não vai ajudar à potencial promessa que algumas canções melhorzinhas como a introdução instrumental, “Hooligan” ou “Beyond the Vale” pudessem tentar. É como se Billy Corgan e esta sua versão dos Smashing Pumpkins andem às voltas, à procura de como manter a relevância, com a mesma confusão com que os fãs tentam perceber o que raio se passa naquela “Hooray!” Uma pena, mas começar um projecto ambicioso desta forma é como começar os pénaltis a desperdiçar um estouro descabido por cima da baliza, à la David Beckham em 2004. Mas, como o que eles editaram entre 1991 e 2000 é mesmo muito bom, cá estaremos nós, feitos tansos, à espera das outras duas partes, não é?

Músicas em destaque:

ATUM, Hooligan, Beyond the Vale

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sobre o autor

Christopher Monteiro

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