Self Defense Family & Touché Amoré

Self Love
2015 | Deathwish | Hardcore

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Se há estilo onde o formato split é tradição, esse estilo é o hardcore-punk. Seja para as bandas ou editoras independentes dividirem as despesas inerentes à gravação e lançamento de um registo, seja pelo companheirismo e o prazer de colaborar com outros projectos, o formato split já não vai para novo e, mesmo com o advento da música em formato digital, parece teimar em desaparecer.

Os Touché Amoré deram nas vistas por alearem o ímpeto do hardcore a um registo mais confessional e altamente emotivo – chamem-lhe screamo, se quiserem -, embrulhando-o numa instrumentação abrasiva q.b. e extremamente melódica. Apesar de haver quem os acuse de roçarem o melodrama, perdoa-mo-lhes a lamechice em prole da tremenda honestidade das palavras de Jeremy Bolm. De qualquer maneira, a melhor forma de tirar as teimas é ouvir o seu terceiro e mais recente álbum, Is Survived By (2013, Deathwish Inc.).

Também debaixo do tecto da Deathwish, de Jacob Banon (Converge), os Self Defense Family apresentam-se com um vocalista cuja postura muito particular o aproxima dos territórios da spoken-word. Try Me data de 2014, também com selo Deathwish, e é uma excelente desculpa para entrar no mundo dos Self Defense Family. O cinismo fica-lhes bem.

Apesar de no seu formato mais tradicional o split consistir, por exemplo, num disco de vinil de 7 polegadas onde cada banda grava duas músicas num dos lados do disco, este split trata-se de uma verdadeira colaboração entre os Touché Amoré e os Self Defense Family na qual as duas bandas se fundiram e, juntas, gravaram “Circa 95” e “Low Beams”. Sendo os Self Defense Family um projecto com uma quantidade quase absurda de colaboradores, no total foram quinze os músicos enfiados numa sala a trabalhar para que este disco visse a luz do dia.

Para terminar, resta-nos ouvir Self Love e verificar que nenhuma das bandas se coibiu de sair da sua zona de conforto. Se por um lado temos os Self Defense Family a entrar por territórios mais melódicos, por outro Jeremy Bolm mostra-nos que ainda sabe berrar. “Low Beams” acaba por ser a faixa que mais surpreende, apesar de no final nos deixar com a sensação de que podia continuar por mais um minuto e meio que ninguém se aborreceria. Ainda a respeito de “Low Beams”, não nos deixemos enganar por um início que, com camadas e camadas de guitarras, quase pisca o olho ao shoegaze, pois não tardarão em surgir os acordes carregados de distorção que esmagarão esse ambiente mais contemplativo, enquanto Bolm fustiga as cordas vocais, transformando assim esta faixa num hiperactivo hino à alienação daqueles que passam demasiado tempo na estrada.


sobre o autor

Ricardo Almeida

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