Mais uma compilação. É o que os Mötley Crüe têm a oferecer na continuação desta prolongada fase de “tínhamos acabado mas estávamos só a brincar,” isto depois de colher alguns louros à custa da biopic “The Dirt” e de um single/EP ironicamente intitulado “Cancelled,” com uma canção de crítica/queixume da cultura mais sensível de hoje em dia, mas que também pode ter uma súplica para não irem rever todas as letras do seu repertório – uma “Dragstrip Superstar” ou uma “All in the Name Of...” são exemplos de algo que não precisam mesmo de ir ver.
O nome “From the Beginning” sugere uma estratégia evidente, a de percorrer todo o trajecto da banda mais sleazy da California, do início até ao mais recente. Mas é só quase isso. Cobre bem a década de 80, galga toda a década de 90 como se não tivesse acontecido, e lá fecha com um tema da banda sonora do filme, a faixa-título do “Saints of Los Angeles,” – que, para disco de crise de meia-idade, até nem está assim tão mau – outra do “Cancelled” e a “novidade.” Parece batota, mas até é inteligente. Os próprios Mötley Crüe sabem qual é a fase da carreira que realmente interessa e não são subtis ao seleccionar os singles praticamente todos da sua década de 80 – só peca por isso impedir uma supremacia do “Shout at the Devil,” deveras um clássico do heavy metal, quer se goste das personalidades que o criaram ou não.
Então o que é que realmente justifica este “From the Beginning,” em vez de muitas outras compilações que já tenham lançado antes, um “Greatest Hits,” um muito completo “Red, White & Crue,” um pomposo “Loud as Fuck”? Se nem a edição física, tão minimalista, realmente oferece algo? Tem a curiosidade da novidade: uma nova versão da “Home Sweet Home” em “dueto” com Dolly Parton, – aspas porque é inserida apenas a voz de Parton e ela está em dueto com o Vince Neil de 1985, o que até pode ser bastante sensato – que até resulta de forma curiosa e agradável. E a tal inteligência na compilação contida: é o ponto de partida mais simples para o miolo que mais importa de uma banda que será, inevitavelmente, polarizadora mas que realmente tem malhas no seu arquivo. E o arquivo pode muito bem ser este, antes da partida para explorar a excelência – que pode ser difícil de admitir – dos dois primeiros discos e a diversão dos três seguintes. Novidades? Poucas ou nenhumas. Mas também não fazemos questão.
