Jacco Gardner

Hypnophobia
2015 | Full Time Hobby | Psicadélico, Folk

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Jacco Gardner é um daqueles casos de amor à primeira vista (leia-se audição), um músico que me seduziu logo que tive contacto com as suas canções. Tudo me agradou, desde a composição aos arranjos, passando pelo psicadelismo sarapintado pelas cores da pop barroca, culminando na simplicidade romântica e naif das suas letras. Não será por isso de estranhar que “Cabinet of Curiosities” tenha sido um dos meus discos preferidos de 2013. Na realidade, “Cabinet of Curiosities” parecia ser um trabalho tão difícil de suplantar, ou mesmo de igualar, que Jacco Gardner surgia perante os meus olhos como um daqueles músicos que viveria eternamente da riqueza do seu álbum de estreia. Desenganem-se aqueles que me acompanhavam nestas infundadas conjecturas, pois “Hypnophobia” consegue ser ainda mais fascinante do que o primeiro longa duração deste músico holandês.

“Hypnophobia” traz-nos um Jacco Gardner que continua a orbitar em torno do planeta imensamente mágico da psych folk, porém com uma riqueza criativa cada vez mais vincada e elaborada, preenchida pela intensidade do seu gosto sofisticado. As letras falam-nos sobre o amor e todos os seus entrelaçamentos. Falam-nos sobre as mudanças do nosso eu ao longo da sua existência. São letras que abordam a vida, os sonhos e, acima de tudo, as emoções.

Em “Another You”, faixa que dá início ao álbum, a escrita de Gardner presenteia-nos com “The fading colours of the past / Will remain when memories die / Every child must die alone / While I take this tiny throne” ao que se segue “Now it’s buried in the sand / I will always feel this hell / Pushing forward, next in line / To be sacrificed in his pride”. Já “Grey Lanes” é um instrumental elegante, intensamente belo e avassalador. Um tema frágil que nos transporta para a simplicidade encantada do meio campestre. “Brightly” é uma canção repleta de carisma e fica retida facilmente na nossa memória. Por seu lado, “Before the Dawn” é um épico com mais de oito minutos de duração. Um gigantesco carrossel psicadélico, repleto de genica, veloz e incessante. “Hypnophobia”, o tema título do disco, é pura e simplesmente brilhante. Desde a longa introdução, ao ainda mais prolongado desfecho instrumental, poderosamente hipnótico e desconcertante. Aqui a participação vocal de Gardner resume-se a algumas palavras cantadas por entre o efeito phaser, algo que acaba por nos remeter irremediavelmente para um “Blue Jay Way”, dos The Beatles.

“Hypnophobia” é um trabalho recomendável a todos os níveis. A começar pela belíssima e sugestiva capa, fruto da arte e engenho de Julian House, desenhador mundialmente reconhecido pelo seu trabalho com Primal Scream, Stereolab, Broadcast ou Marc Almond. As melodias que compõem o disco oferecem-nos uma ampla panóplia de ressonâncias emocionais, enriquecidas pelo vasto recurso aos metalofones e aos instrumentos de teclas como o mellotron, o orgão Hammond e o cravo. Ao mesmo tempo, é impossível não nos rendermos por completo à dedilhação rendilhada que brota abundantemente das guitarras acústicas. Verdadeiras canções trovadorescas para uma nova era, que muito devem à estética psicadélica praticada nas décadas de 60 e 70 por nomes como Syd Barrett, Billy Nicholls, Brian Wilson ou Kaleidoscope. Acredito piamente que aqueles que tiverem oportunidade de ver, ou de rever, Jacco Gardner nos concertos que se avizinham não darão o seu tempo e dinheiro por perdidos. Bem pelo contrário.


sobre o autor

Pedro Gomes Marques

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