Como o nome já terá afastado os puristas que ainda andam a juntar papéis para argumentar que aqui os Ghost, fenómeno de sucesso massivo, não são metal, como se andassem os fãs assim tão importados com isso, estamos à vontade para reconhecer o valor desta seita Sueca liderada pelo já não anónimo Tobias Forge como uma das grandes forças do rock comercial, hard rock clássico melódico acessível, heavy metal adulto-contemporâneo, lá o que raio lhe queiram chamar. Pouco importa.
“Skeletá” até chega numa altura de perigoso conforto, e em que também já aceitámos que o pico dos Ghost tenha sido ali pelo “Meliora.” Com isso também se aceita que não o superarão e cada disco pode ser uma agradável experiência, uma nova colecção de temas extremamente pegajosos, mas que já não superará aquele trio de luxo que os fez famosos. Demasiado famosos, para alguns. Já os singles nos davam essa impressão e tirávamos duas simples conclusões: Tobias continua um escritor de canções, pop que sejam, exímio; as malhas são imediatas e colam-se, mas não deve aparecer outra “Cirice” entretanto. E então, “Skeletá” é o tal disco confortável, visto que já sabemos ao que os Ghost soam? Não tanto como parece, na verdade. The Beatles e ABBA sempre foram referências, desde o início, mas este pode bem ser o seu álbum mais AOR. Muito refrão aqui tem bigodaça e permanente e traz muito de Toto ou Journey – a sério, há muito de “Separate Ways” logo em “Peacefield.” E os inícios de temas como “Lachryma” ou “Guiding Lights” – ah vale baladões à REO Speedwagon? – não deixam enganar: isto brilhava numa rádio especializada há umas boas décadas atrás.
De ter em atenção que o peso ainda não foi completamente sacrificado – já não era uma prioridade, e um novo “Opus Eponymous” é que podem ir esquecendo – e as referências de raiz ainda vão estando lá, que “Cenotaph” pede ali um empréstimo à “Children of the Grave” dos pais deles e disto tudo. Como se quisessem ser mais melódicos ainda. Também como se quisessem gozar um pouco com os detractores. Mas, sem dúvida, como quem quer que toda a sua teatralidade não seja oca e queiram justificar o sucesso. Nesta segunda metade da discografia, podemos ver “Prequelle” como o álbum de efeito imediato que se vai gastando, “Impera” como aquele que captamos logo a essência, e este “Skeletá” então será o que continuará a crescer a cada audição. Seja bem-vindo, Papa V Perpetua. No Vaticano, pela altura em que isto é redigido, vive-se o agite, mas por aqui… Habemus Papam.