Twinless confirma James Sweeney como um cineasta interessado nas fissuras dos gestos que parecem empáticos, mas escondem uma necessidade primária. Depois de Straight Up, o realizador concebe uma comédia dramática sobre perda que se foca mais na solidão do que no luto. É uma obra que recorre, de forma literal e emocional, ao conceito de “gémeos” para amplificar a ideia de dualidade e de crise identitária – um tema caro ao cinema queer. Sweeney, ele próprio membro da comunidade LGBTQIA+, realiza, escreve e interpreta com segurança, preferindo a emoção ao sentimentalismo e filmando o vazio como terreno fértil para a dependência e a manipulação.

Dennis (James Sweeney) conhece Roman (Dylan O’Brien) num grupo de apoio para gémeos enlutados. O ponto de partida é a aproximação entre ambos, mas o alicerce da narrativa vai para além da culpa do primeiro por ter estado indiretamente envolvido na morte de Rocky – o irmão do segundo, também interpretado por O’Brien. Na verdade, explora a figura de Dennis como um solitário, permitindo-nos observar como essa solidão se infiltra no seu comportamento: carente, sarcástico e inteligente o suficiente para disfarçar o desespero com humor e controlo. Neste quadro, o filme não o condena peremptoriamente, optando antes por lhe revelar as falhas com um olhar simbólico, atento à complexidade do caráter humano.

Roman serve como o contrapeso ideal. Também vulnerável, mas reprimido e em luta com o seu próprio temperamento, tenta rejeitar o estereótipo, ainda que carregue traços. Entre os dois, a relação carrega um subtexto homoafetivo não sexual, mas permeado por uma tensão de cumplicidade, ciúmes e desejo de reconhecimento que transcende o mero laço de amizade. A simplicidade de Roman confere ao filme uma ternura bem-vinda e, na breve aparição como Rocky, O’Brien acrescenta a dose necessária de carisma e a sensualidade para justificar o fascínio que desencadeia a tragédia.

Os diálogos também sobressaem. As personagens não se refugiam em bordões nem seguem a tendência de um certo cinema, comercial ou independente, que procura a todo o custo parecer inteligente e excêntrico. Sweeney revela sensibilidade e um apurado sentido de ritmo. A montagem respeita tanto a pausa quanto a fala, e o humor, em vez de aliviar, serve para expor personalidade.

Visualmente, há mais expressão do que aparenta. A fotografia de Greg Cotten aposta em tons quentes e composições calculadas para sublinhar a intimidade, mas nunca cai no polimento artificial. Há uma serenidade triste nas cores, como se tudo parecesse ordenado, mas sentido-se a inquietude no enquadramento.

E é nesse registo que o desfecho opera. A decisão de se voltarem a encontrar e a coincidência do pedido no restaurante, representam um dos poucos momentos em que o filme sucumbe à semântica previsível. Apesar disso, a cena funciona e serve como sinal de uma trégua frágil, aberta à leitura de cada espectador. Não há redenção plena nem esquecimento, só o ponto de contacto possível entre lamento e carência, dor e desejo de continuidade.

Ao sugerir que compreender a solidão é reconhecer o próprio impulso humano por ligação, mesmo quando se manifesta em erro, a mensagem de Twinless destaca-se entre as dos demais filmes sobre o luto. Muito embora pudesse beneficiar de um gesto mais arrojado, termina de forma envolvente e desperta vontade de rever.


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