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Nightcrawler
Título Português: Repórter na Noite | Ano: 2014 | Duração: 117m | Género: Crime, Drama, Thriller
País: EUA | Realizador: Dan Gilroy | Elenco: Jake Gyllenhaal, Rene Russo, Bill Paxton

Ponto 1 – “Pensa numa mulher aos gritos na rua com a garganta cortada. É desse tipo de coisas que gostamos”. A frase é dita por uma directora de informação de uma grande cadeia televisiva (Rene Russo) a Lou, um “repórter” rasteiro, um verdadeiro réptil noctívago.

Ponto 2 – Referências irónicas ao esforço, ao empreendedorismo, ao sentido de oportunidade, à obediência, à evolução e à necessidade de aprender. Uma mensagem moralista vinda de alguém para quem a moral se resume  a uma palavra: oportunismo.

Dois pontos interessantes, duas mensagens ricas. Um certo sarcasmo sobre a exploração do trabalho e uma bela reflexão sobre o jornalismo sensacionalista (ou não-jornalismo), em que o negócio e as audiências ultrapassam qualquer deontologia profissional e qualquer preocupação informativa.

Nightcrawler – Repórter na Noite não vale só pela mensagem (e, com isto, nada contra um descartável filme de acção, desde que bem feito) levada ao cinema pelo realizador Dan Gilroy. Vale por criar um argumento equilibrado, que não subjuga a história a um mero fogo de artifício e efeitos técnicos. E a cena do clímax televisivo, vista a partir dos bastidores, é de uma eficácia tremenda.

Por outro lado, o protagonista tem muito de desprezível, mas não é o mauzão estereotipado. Os comentários de psicologia meio barata que lança têm um toque delirante e há nele um lado de decadente e sinistra solidão e de uma demência perversa. Juntamente com o escravo que contrata, faz lembrar um pouco a dupla de O Dia de Treino, o belíssimo filme de 2001, com Denzel Washington e Ethan Hawke. E, para tal, Jake Gyllenhaal volta a revelar um tremendo talento, aqui numa personagem mais incendiária e menos introspectiva do que é habitual.

Há aspectos menos inverosímeis (três palavras: mandado de busca) e o final não é arrebatador. Mas, acima de tudo, Nightcrawler é um exemplo paradigmático de bom cinema comercial americano, sem grandes aparatos, sem grandes truques baratos. Sóbrio, criativo e com coisas interessantes para dizer.

Crítica originalmente publicada em Dezembro 2014


sobre o autor

Joao Torgal

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