King John

Good Son
2023 | Echo Rock | Rock

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Por vezes na música e na vida, o “silêncio” não significa inércia e, neste caso, isto não poderia ser mais verdade.

O silêncio destes últimos 3 anos, traduziu-se no segundo LP a ser editado por King John, projecto musical de António Aves, nascido na ilha de S. Miguel (Açores) e sediado desde há 7 anos em Lisboa.

O músico que conta com passagens por palcos como o Festival Tremor, Mare de Agosto, Festival Monte Verde, Musicbox, A Porta e The Shacklewell Arms (Londres), redescobriu-se e foi ao encontro de uma sonoridade mais próxima do que sempre pretendeu para o projecto.

Good Son” é o título do disco, traz consigo 9 originais e na sua génese estiveram duas perguntas: Fui/ Sou um bom filho? Serei um bom pai?

Foi gravado entre Ponta Delgada (S. Miguel, Açores) e Lisboa no estúdio HAUS, coproduzido e misturado por Makoto Yagyu dos PAUS e masterizado nos estúdios Abbey Road por Frank Arkwright (Arcade Fire, The Smiths, New Order, Joy Division).

Foi editado no passado dia 24 de Novembro pela Echo Rock, com edição especial em vinil coeditada pela Black Sand (Music).

#1 Wilderness Empire

Esta canção surgiu despois de uma tarde maioritariamente passada no trânsito e em que, observar as pessoas que “marchavam” no passeio, tornou-se a única escapatória, para o tédio que se instalou.

Vi muitas pessoas a dirigir-se de forma robótica, para um lugar onde vão provavelmente todos os dias, sem processar o que se passa à sua volta.

Tendo crescido numa ilha, onde o ritmo de vida e a cara das pessoas por consequência é mais “aberta”, esta realidade é efetivamente muito estranha, embora saiba que assim o é, em todas as grandes metrópoles do mundo.

Esquecemo-nos que somos animais, filhos da Natureza.

#2 The Water

“The Water” fala sobre utilizar um meio, neste caso a água, para escapar a algo que nos atormenta.

Por causa da região onde nasci, olhar para o mar e para a linha do horizonte, sempre foi algo imediato e apaziguador.

Sempre que precisei, o azul do Atlântico e as suas linhas, estavam disponíveis para me ajudar.

Por contraste, viver em Lisboa “afastou-me” um pouco dessa realidade, realidade essa, que foi substituída por um ocasional relance para o rio Tejo, sem que o efeito seja o mesmo devo confessar.

#3 Júlia (Circles of Life)

Ter-me tornado pai foi/é a maior e melhor aventura da minha vida.

A letra para esta canção, surgiu quando a minha filha ainda tinha apenas alguns centímetros e crescia tranquilamente dentro da barriga da mãe.

Nessa altura, tinha muito mais perguntas do que resposta. “Será que estarei à altura?” “O que quero transmitir à minha filha e como vou poder ajudá-la a navegar neste mundo em constante transformação”?

A espetativa pode ser terrível e provavelmente, não há uma medida para o sucesso de se ser Pai, mas a Júlia terá sempre esta música para perceber que tento e tentarei dar sempre o meu melhor. Uma espécie de manifesto de intenções da minha parte.

#4 White Keys

“White Keys” pode não parecer à primeira vista, mas é uma canção de Amor.

Fala sobre quem está sempre ao nosso lado e que nos ajuda nos (altos) e baixos da vida. Que nos escuda com um sorriso inabalável, mesmo quando a escuridão se abate sobre nós e nos transporta para sítios menos bons.

Eu tenho a sorte de ter um super-sorriso desses na minha vida.

#5 Change(s)

Nesta canção, abordo uma temática recorrente na minha escrita, mas que infelizmente mantém presença nas nossas vidas: o mal que fazemos uns aos outros e o mal que fazemos ao nosso Planeta e aos restantes seres que nele habitam.

Desta vez e ao contrário do que fiz no passado, tento concentrar-me nas coisas boas que temos a oferecer como forma de equilibrar os pratos da balança, sendo que do outro lado, o prato está mesmo pesado.

“There’s love to be harvested everywhere. Press down on the brakes, not everything is for sale”.

#6 Good Son

É a canção que liga os acontecimentos da minha vida pessoal dos últimos anos, diretamente à narrativa do LP (vida artística).

Estar longe dos meus pais, enquanto perco bons anos das suas vidas, à procura das minhas próprias respostas e caminhos. Também, saber que me iria tornar pai, fez-me questionar como fui/sou enquanto filho.

Acho que é uma pergunta que atravessa muitas vezes as nossas mentes, no entanto, só um evento tão marcante como o nascimento de um filho, a torna verdadeiramente presente e faz-nos perceber os reais desafios porque passaram as pessoas que nos deram TUDO.

#7 Maritime Superstitions

Se uma das pessoas mais importantes da tua vida, perde a oportunidade de uma vida por medo de arriscar, que fazes?

É baseada numa história verídica de alguém muito próximo de mim, que decidiu não embarcar numa volta ao mundo de barco, com receio do desconhecido, das tempestades em alto mar e das “sereias”, mas que transformou a vida à sua medida e hoje, com os pés assentes em terra, encontrou o seu próprio caminho.

#8 Moto

Estar em constante movimento e não sucumbir à pressão da sociedade, por forma a caber num qualquer quadrado de conformidade e tradicionalismo.

Porque não andar de mota (com capacete claro) sem saber o destino final, rumo ao horizonte e ao pôr-do-sol? Não necessariamente, de forma literal.

Gosto de perceber que existem formas de liberdade, que dão muito trabalho criar e manter, mas que estão disponíveis. Com trabalho, dedicação e um QB de loucura.

#9 X Marks the Spot

“X Marks the Spot” fala sobre pedir e receber ajuda dos nossos heróis na busca pelo “ouro”. Qualquer que seja o “ouro” de cada um.

Os últimos 3 anos, foram um período fértil a nível de ideias para canções, mas ao mesmo tempo tornou-se mais difícil terminá-las, pois queria muito respeitar o que estava a sentir e a pureza desses sentimentos e ter a certeza que os descrevia da melhor forma.

É um equilíbrio difícil de alcançar, mas acho que o consegui fazer com a ajuda da Patti (Smith) e do Mr. (Alex) Turner, entre outros.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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