Já depois de dois álbuns, outros projectos e a aprovadíssima entrada nos Sinistro, Priscila da Costa resgata o projecto Ptolemea, faz mudanças à casa e apresenta um grande novo disco. Isso, as suas origens portuguesas que permanecerão sempre muito presentes, e tudo o que inspira este “Kali,” tal como a figura mitológica hindu, são alguns dos temas que deixámos ser a própria a explicar-nos melhor.
É óptimo ter o projecto Ptolemea de volta! Quando sentiste que tinhas tudo reunido para avançar com o “Kali”? Ou aconteceu tudo naturalmente?
Sim, aconteceu tudo naturalmente. As gravações no estúdio aconteceram em fases diferentes, pois umas músicas foram escritas ainda durante o COVID, outras mais tarde. E ia para o estúdio quando necessário e possível. Quando tinha tudo gravado e produzido, começou a organização para o lançamento do disco.
“Kali” é um álbum mais emocional e introspectivo. Quais foram as principais inspirações para estes novos temas?
Estes dois últimos anos passei por grandes mudanças na minha vida e este álbum “Kali” representa as diferentes fases pelas quais passei. Seja o facto de me reconectar ao sentimento de que na vida tudo é possível, de cortar laços com relações ou maneiras de pensar que não me ajudavam mais para avançar e me entregar ao caos e à beleza da vida. Como a deusa hindu Kali representa a destruição e o renascimento, achei o título perfeito para este disco.
Quanto da recente experiência com os Sinistro entrou na concepção do “Kali”?
Desde que entrei nos Sinistro, eles apoiaram-me no meu projecto e continuam! São tão queridos! O Ricardo Matias e o Rick Chain, guitarristas dos Sinistro, compuseram o título principal do álbum que também se chama “Kali”. O Rick Chain também teve a visão artística para a capa do álbum e do merch, e também filmou dois vídeos para a promoção do álbum: “Guilhotina” e “Aqui, Ali, Acolá”. Estou muito grata de ter sempre o input dele e vejo mesmo uma grande diferença na imagem de Ptolemea desde o último álbum. Está bem melhor!
É inevitável haver sempre algo de muito Português nesta música universal. É algo que pretendes sempre, de antemão, a cada novo trabalho? E o que levou à selecção da “Gaivota”?
Gosto muito de escrever em português mas com Ptolemea às vezes a inspiração das letras cai em inglês. Depende da vibe do momento, não é algo calculado. Adoro a voz e a maneira de cantar da Amália Rodrigues e a música “Gaivota” é uma das minhas preferidas, e que é também por vezes cantada na minha família, quando estamos todos juntos. Queria uma música de fado no álbum para representar as minhas origens portuguesas e essa conexão forte que sinto com Portugal e que me levou a vir morar para aqui.
Há comparações a referências mais evidentes como Chelsea Wolfe ou Emma Ruth Rundle. São acertadas? Há alguma influência importante que não detectemos logo?
Chelsea Wolfe é uma grande inspiração para mim! Quando ouvi o álbum “Abyss” da Chelsea Wolfe, decidi comprar um Moog Grandmother (sintetizador) e isso mudou completamente a abordagem que eu tinha relativamente à composição das músicas, e Ptolemea começou a ter uma identificação sonora mais autêntica e original. Outras influências: Darkher, Anne von Hausswolff, Dead Combo, Amália Rodrigues.
Há novidades e mudanças estilísticas para este “Kali”. Foi algo planeado e que já consigas antever que continues a fazer a cada novo disco? Ou deixas as coisas fluir e ainda não estás a pensar no que possa estar num sucessor?
O mais importante para mim é que haja uma evolução em cada disco. Com o último disco “Balanced Darkness”, aconteceram mudanças estilísticas muito grandes. “Kali” é uma continuação desse novo espectro artístico. Acho as novas composições mais maduras e enraizadas. Mas deixo as coisas sempre fluir, tento entregar-me ao processo de criação e ter confiança de que vai resultar.
Está planeada para o próximo ano uma digressão com os Sangre de Muerdago pela Europa, para promover o disco. Que expectativas e objectivos tens já delineados para essa tour? O que pode o público esperar?
Os objectivos são de partilhar o universo de Ptolemea com o maior número de pessoas possível. Vou tocar a solo, com um set bem intimista de músicas mais antigas e mais recentes que condiz com a música introspectiva dos Sangre de Muerdago.
Consideras que, para Ptolemea, seja importante uma parte visual mais teatral ou achas que a música já deva tratar disso só por si?
Nunca considerei Ptolemea como teatral mas acho que o elemento visual me permite aprofundar a mensagem da música através dos videoclipes. Apesar de ter projecções durante os concertos, o foco está definitivamente na música.
Há planos para, no futuro, manter o projecto Ptolemea vivo e mais regular, ou pode sempre haver mais algum outro projecto que ocupe tempo?
Tenho planos, sim, para manter Ptolemea mais vivo e regular, mas também há sempre outros projectos a acontecer como os Sinistro, Judasz & Nahimana, aulas de canto, o teatro e outros projectos pontuais que aparecem e que me permitem viver a fazer o que amo… música!