Entrevista


Ermo

O disco tem como mote a retratação do Portugal actual, que é como todos sabemos um país que não vive ao nível do seu potencial (para usar um eufemismo).


© João Coroas

Por esta altura, já será difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar dos Ermo. Praticamente um ano após a nossa primeira conversa, o duo bracarense mostra-se satisfeito com o caminho percorrido. Editaram o primeiro disco (Vem por Aqui), deram concertos por todo o país e tiveram ainda tempo para uma tour europeia.

Um ano depois da nossa primeira conversa nesta casa, digam-nos: 2013 superou as vossas expectativas?
2013 foi um ano incrível para nós. Editámos o nosso álbum de estreia, tocámos de Norte a Sul do país, estivemos em tour por Portugal e pelo estrangeiro, fizemos amigos incríveis e conseguimos fazer com que a nossa música chegasse a um cada vez maior número de pessoas. Logo estamos muito satisfeitos com o que passou no último ano.

Nas últimas semanas andaram por Espanha, Inglaterra e França. Como correu essa tour? A reacção do público foi positiva? Há alguma história que valha a pena ser contada?
Tal como todas as tours, foi uma aventura imprevisível, mas que nos proporcionou momentos fantásticos. Sentimos, como acontece sempre, um maior entusiasmo do público em alguns espaços do que noutros, mas no geral ficámos surpreendidos com o quão bem fomos recebidos. Nem mesmo a barreira linguística gerou problemas, e isso é algo de que nos podemos orgulhar. Histórias que valham a pena ser contadas existem imensas: foram apenas duas semanas de estrada, mas tivemos direito a uma dose mirabolante de azar, coincidências quase cósmicas, encontros estranhos com pessoas que parecem ter saído de outro mundo e contactos com lugares extremamente insólitos. Mas são o género de histórias que não estão destinadas ao discurso de uma entrevista respeitável.

Vamos agora falar do vosso primeiro disco. “Vem por aqui” foi editado a 25 de Novembro de 2013 pela Optimus Discos. Estão satisfeitos com o resultado final?
Estamos muito satisfeitos com o disco. Trabalhámos bastante para que pudesse ficar exactamente como queríamos que ficasse, e penso que esse objectivo foi cumprido. Não podemos ainda esquecer a ajuda do Luís Salgado, que nos produziu e misturou o álbum e que foi das poucas pessoas que conhecemos durante o nosso percurso que foi capaz de realmente deslindar aquilo que pretendemos evocar com a nossa música.

Como foi a experiência de gravar este disco?
Foi uma experiência muito boa. Passámos uma semana na casa do Salgado e gravámos as vozes em Guimarães durante dois dias dessa mesma semana. O resto serviu para tratar os instrumentais, resolver alguns detalhes, fazer os arranjos das muitas linhas vocais que tínhamos e usufruir da grande cidade do Porto.

Podes falar-nos um pouco mais do conceito por detrás do “Vem por aqui”?
O disco tem como mote a retratação do Portugal actual, que é como todos sabemos um país que não vive ao nível do seu potencial (para usar um eufemismo). É também mais intimista do que o EP no que à nossa relação pessoal com o país diz respeito, embora não deixe de seguir uma lírica que visa uma interpretação colectiva dos problemas que por cá se sentem. A nível musical, optámos por fazer um disco mais electrónico e com algumas preocupações a nível estrutural – a exploração do refrão, por exemplo, algo que não fizemos no EP.

Estão satisfeitos com o feedback que têm recebido por parte do público e da comunicação social?
Estamos muito satisfeitos! Toda a gente tem recebido o disco incrivelmente bem, e isso não nos podia deixar mais felizes. O facto de termos conseguido figurar em vários tops de melhor do ano, por exemplo, apesar deste ter sido um lançamento tão tardio, é uma prova de que as pessoas gostam do que fizemos com o “Vem por Aqui”.

Falando um pouco das vossas origens… vocês vivem em Braga. Como é para um artista viver na cidade dos arcebispos?
Braga é uma cidade que está profundamente enraízada na nossa personalidade, e consequentemente na música que fazemos. Hoje em dia sente-se em Braga qualquer coisa de novo, na nossa opinião. Cada vez mais a cidade prova ser fértil na produção cultural, e alguns projectos permitem que cada vez mais cultura chegue aos olhos e ouvidos dos bracarenses. Naturalmente, ainda não é um fervoroso centro artístico – mas a evolução mental das cidades é sempre lenta e morosa, pelo que ver que alguma coisa está vagarosamente a tomar a direcção certa só nos deixa felizes. Apesar de tudo, não nos podemos queixar.

O que esperam deste 2014 a começar? Vai ser o ano da afirmação dos Ermo?
Temos um bom pressentimento em relação a 2014. Vamos continuar a dar concertos, e esperamos chegar a cada vez mais pessoas e a palcos cada vez mais interessantes. Também estamos decididos a não deixar de editar qualquer coisa nova – o nosso processo de composição é extremamente rápido e não queremos que as músicas que agora são novas sejam velhas na altura em que entremos em estúdio. De resto, esperamos evoluir no bom sentido, e podemos já adiantar que muito em breve teremos algumas novidades interessantes. Esperemos que seja o ano da continuidade de uma afirmação.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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