Entrevista


Julia Jacklin

Acho que me apercebi de que tens de largar as pequenas coisas, se queres aproveitar a vida. E aceitar que as coisas vão mudar, as pessoas vão mudar e tu também.


© Shervin Iainez

Alguns artistas demoram anos a testar as águas, a encontrar a sua zona de conforto, um registo que lhes soa bem ao ouvido. E, do outro lado, há aqueles que nunca o encontram. Não por inaptidão, mas por escolha. É-lhes bem mais natural sair da zona de conforto ou nunca conhecer uma. Fica ainda por decidir em qual dessas categorias se encaixa Julia Jacklin ou se em alguma, de todo.

Don’t Let The Kids Win (2016) é o primeiro álbum da australiana e não espelha, de todo, alguém a molhar os pés com cuidado em águas desconhecidas. É por entre guitarras reverberantes que Jacklin narra as dores de quem tem de crescer aos 25 anos e que vive, já, a estagnação e o desencanto gradual da vida. Surge, assim, um primeiro registo cuja fragilidade e sentido de humor perspicaz nos deixa imóveis até ao último segundo.

A “Pool Party” é sobre o quê? É uma das mais fascinantes do álbum.

É sobre alguém na tua vida que não está a tomar conta de si próprio. Então dizes “se não por ti, por mim, então?”.

Trabalhavas numa fábrica antes disto. Antes de rebentares. Como foi essa transição?

É definitivamente muito diferente! Eu já tocava bastante enquanto trabalhava, mas agora estou a fazer esta digressão a full-time, por isso é bastante diferente. Mas tenho saudades dos meus colegas… Trabalhei com pessoas fantásticas.

Sempre quiseste enveredar pela música?

Sim e não. Quando era pequena queria ir para o exército. Depois queria ser cantora, mas não sabia bem como o concretizar. Fui para a universidade porque queria ser assistente social e não tinha a certeza, de todo, se era possível sobreviver da música. Mas sempre esteve lá, de alguma forma.

Já disseste antes que, para fazeres música, tens de estar preocupada. Inquieta, será a melhor palavra.

Sim… Acho que tenho de ter na cabeça algo que me inquiete. Espero conseguir mudar isso, no entanto. Não quero estar nesse estado de espírito para sempre. Mas quero fazer música durante bastante tempo.

Tens uma vertente na tua música que parece vir de alguém que aceita a inevitabilidade do que está para vir. És uma otimista conformada?

Se calhar. (risos) Acho que me apercebi, apenas, de que tens de largar as pequenas coisas se queres aproveitar a vida. E aceitar que as coisas vão mudar, as pessoas vão mudar e tu também, fisicamente e emocionalmente. É a maneira como as coisas funcionam.

Mas depois há a ansiedade de ficares mais velha, do tempo passar demasiado depressa. Tens medo disso?

Não mais do que as outras pessoas. É algo que está presente, mas é mais sobre ter medo de não conseguir fazer tudo o que eu quero na altura ideal.

Este álbum é bastante honesto. Dizes coisas que alguns de nós têm medo de dizer em voz alta. Achas que é algo necessário para fazer boa música?

Não para todo o tipo de canções. No meu estilo de música, é muito importante ser genuína e honesta. Dizer o que sinto e dizê-lo de uma forma única, que, na verdade, é o meu ponto de vista único.

Quem são as tuas referências? Quem ouves e pensas “quero fazer algo assim”?

Neste momento estou a ouvir o novo trabalho da Solange e os Big Thiefs. Quero criar álbuns tão bons como estes. E, de vez em quando, ouço a “Suzanne” do Leonard Cohen e penso “é isto”. Quero criar algo tão bonito como aquela música.

Portugal… é uma paragem futura?

Quero muito, muito ir a Portugal, mas acho que ainda não tenho nada planeado. Mas vou tentar fazer com que isso aconteça.

E agora?

Vou voltar à Austrália durante uns tempos para uns concertos. E depois vou tirar umas férias lá para o Natal para relaxar e, espero eu, para escrever. No próximo ano continuo em digressão e quem sabe o que acontece depois disso!


sobre o autor

Rita Neves

Música nas horas vagas e nas outras também. (Ver mais artigos)

Partilha com os teus amigos