Primal Attack

Heartless Oppressor
2017 | Rastilho Records | Thrash metal

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O difícil segundo álbum. Não deve haver grande coisa que facilite essa tarefa, mas há o que a dificulta. Ter um bom “hype” à volta do álbum de estreia e ter uma rápida ascensão e consolidação no panorama onde se insere é muito bom para isso: para dificultar, entenda-se. Os Primal Attack tiveram esse “bom ‘hype’ ” em “Humans”, álbum de estreia, e agora o novo “Heartless Oppressor” que se desenrasque. Claro que cabe aos próprios  confeccionar esse segundo álbum. E sim, desenrascaram bem.

Para serem bem sucedidos não tinham que inventar nada e nem mudar alguma coisa, não tinham que começar a orquestrar as canções, a cantar limpo – que já se vai fazendo – ou a fazer músicas de dez minutos. Até porque os Primal Attack são bem mais uma banda de murraças nos queixos do que de tiros nos pés. Pode-se estar descansado, o conjunto Lisboeta acrescentou o que devia: ainda mais energia, mais atitude “in your face”, mais pujança; um naturalíssimo amadurecimento das boas ideias do estreante “Humans”.

A essência dos Primal Attack mantém-se e até nem é exclusiva. Tocam um thrash metal moderno, daquele bem injectado com um death metal melódico e com um músculo hardcore a dar-lhe mais energia e agressividade. Quanto às influências:  tal como em muitos outros grupos do género, Pantera e Lamb of God são o Velho e o Novo Testamento de toda esta abordagem musical. E pode ler-se por aí em muitos textos pela web fora atirar-se o nome The Haunted. E não é à toa. Os Primal Attack não estão aqui a inventar a roda e nunca o quiseram fazer. Estão aqui para abrir pits e abanar pescoços e trazem como adereço para tal, as nove canções novas e convincentes de “Heartless Oppressor”.

Não se limitam a trazer apenas riffs que puxem para a castanhada, dão-se ao trabalho de apresentar bons riffs. Simples, mas que resultam, tanto quando puxam para o lado com mais “groove” e mais melódico, como quando se debruçam mais na parte hardcore e nos riffs mais chug. Pica continua um monstro berrador que apresenta aqui alguma versatilidade. Um estupendo desempenho instrumental, um baixo audível e uma dupla de guitarristas invejável contribuem para uma experiência aprazível e uma harmonia entre a secção rítmica que debita os furiosos e velozes riffs e o virtuosismo dos solos. São temas directos, a pegar o ouvinte pelos colarinhos sem rodeios, mas não deixa de haver espaço para um ocasional virtuosismo sem fugir para o exibicionismo, e aqui não há como não destacar uma “Truth and Consequences” e a sua parte instrumental final. Tema de destaque em todo o disco. Também há aqui sempre algo para ficar na cabeça como o interessante refrão de “Hypersonic Generation” ou os gang vocals de “The Prodigal One”, a pedir coros em uníssono de futuras plateias.

Há alguns experimentalismos pouco extravagantes nas estruturas das músicas, uns bons como em “XXI Century Curse”, outros a meio-termo como “Heart and Bones” que surpreende com o seu início – que por acaso até soa semelhante ao da “XXI Century Curse” – e depois apresenta ali algumas possíveis influências de Fear Factory, Static-X ou, sem querer estar a blasfemar assim muito, até mesmo Dope, sem os elementos industriais, e usufrui de riffs e breakdowns mais genericamente core-izados.

No geral, nada a apontar contra os Primal Attack. Superaram o teste do segundo álbum e já provaram que não passaram só pelo underground Português como uma rajada para  se depois retirarem, despercebidos, sem deixar marca ou memória. Ajuda-lhes serem compostos por membros que já são tudo menos amadores e já com experiência em tocar e editar música pesada deste calibre. “Heartless Oppressor” não vem apresentar-vos nada novo, mas traz um petardo suficientemente jeitoso para se querer ouvir outra vez.

 

Podem recordar a entrevista realizada recentemente com os Primal Attack, sobre este novo disco, aqui.


sobre o autor

Christopher Monteiro

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