Cradle of Filth

The Manticore and Other Horrors
2012 | Nuclear Blast | Metal

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Se há banda que se pode considerar que carregue uma enorme cruz às costas, Metallica à parte, essa banda é Cradle of Filth. O desprezo sentido pela banda vem sempre justificado, seja porque não aguentam o estilo que criaram, seja por ter alienado o Black metal, mesmo que do dito género haja lá pouco ou nada. Ou então porque se suportam muito no factor imagem, ou porque são apelativos a miúdas aspirantes a góticas. Podem também não digerir os guinchos de Dani Filth e assemelhá-lo a uma cadela em época de cio. E há sempre o tão afamado sacrilégio de vender alguns discos a mais, ou simplesmente não irem com a cara deles. O ódio e rebaixamento da banda para o estatuto de abominação que muito se vê pelo povo fora, tem sempre a sua justificação devida.

A começar já por aí, não há nada em “The Manticore and Other Horrors” que lhes vá mudar de opinião. Soa precisamente a Cradle of Filth a ser Cradle of Filth, sem tirar nem pôr lá grande coisa. É para os fãs da banda que isto deve ser direccionado e até com eles mesmos parecem haver algumas contas a ajustar. Sempre com gosto requintado para as orquestrações, parece que em “Godspeed on the Devil’s Thunder” e ainda mais em “Darkly, Darkly Venus Aversa”, esses elementos sinfónicos roçavam o exagero e a sua demasia não compensava a falta de sabor que podia haver neles. A banda Inglesa parece ter tido isso em mente e despachou muita da orquestração para o “Midnight in the Labyrinth” para que se pudessem concentrar mais no “peso” propriamente dito enquanto concebiam este disco. É claro que a parte sinfónica está sempre lá – sempre esteve – mas este é bem capaz de ser o disco mais orientado por fortes guitarras desde “Nymphetamine”.

Então, tendo em conta que estavam em fase de compensação para aqueles que já não os digerem tão bem desde o “Thornography” – e já a esse lhe torceram o nariz – e ainda mais para quem não passa do “Midian”, – para esses já deve ser praticamente impossível – o grupo não tinha porque inventar mais ou porque acrescentar mais alguma coisa. O conveniente até seria despir um pouco e parece ter sido isso que fizeram. Deixaram-se levar mais pelo trabalho de guitarra de Paul Allender a disparar riffs com um tanto de agressividade como de melodia, com passagens que levam desde o Thrash ou o tradicional até ao cheirinho de Black metal – afinal sempre há qualquer coisa – e tudo com muito sabor a Punk.

Os arranjos orquestrais não saem de lá, obviamente, mas já não é propriamente o que lidera. Houve uma maior concentração em escrever puras malhas – com melodias da marca Cradle of Filth suficientes para se identificarem. São basicamente essas as principais mudanças que se deram à superfície, porque o núcleo mantém-se. As estruturas das canções já não levam imprevisibilidade e para quem já conhece o trabalho da banda, cada grito agudo de Dani Filth, cada narração feminina encontram-se exactamente onde esperamos que se encontre. Ao décimo álbum com um estilo próprio seria de esperar, já não há muito espaço para surpresas, tirando talvez a introdução industrial de “Huge Onyx Wings Behind Despair” – não foi preciso esperar por EP’s de Remixes e não soou descabido, felizmente.

Que mais há a acrescentar sobre características do selo da marca Cradle of Filth? A voz, com certeza, sempre foi das coisas que mais marcou. Deve-se dizer que Dani Filth já não caminha para jovem e já na voz se nota. Ainda sabe mandar um bom guincho agudo, mas tem que os administrar e distribuir melhor, preservando a garganta. Ao longo das canções segue um tom mais grave, por vezes sussurrado, por vezes sofrido e também metendo ao barulho um grunhido ou outro. Não faz muita diferença porque ele sempre utilizou esses registos, só não pode gritar como fazia em “Dusk… and Her Embrace”, mas como esse aí até só fez uma vez na vida. Em termos líricos, Dani Filth ainda continua em forma na escrita das suas obscuras e teatrais letras. Goste-se ou não do seu estilo, não se lhe pode tirar crédito no que diz respeito ao seu talento em escrever poesia blasfemo-vampiresca. Com um conceito debruçado em histórias e contos sobre monstros e criaturas mitológicas, ele ainda sabe bem o que fazer, mesmo que também já pareça cliché.

Para resumir toda esta conversa de uma forma mais simplificada, repito algo que já disse: os Cradle of Filth sucederam em ser os Cradle of Filth. Com as coisas devidamente no sítio para não soarem cansados e para se manter com vida. Tudo no sítio para agradar quem gosta e para continuar a fazer os que os desprezam procurar noutro lado. É um disco em que um fã pode pegar e olhá-lo com o saudosismo de um tempo da banda mais antigo e ao qual eles não conseguirão voltar – e se for os tempos pré-Midian ainda menos – mas não se pode considerar que se olhe para ele com insatisfação. Afinal ainda está aqui o álbum mais forte, coeso e sólido que Dani Filth & Ca. lançam desde “Nymphetamine”…


sobre o autor

Christopher Monteiro

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