Old Jerusalem

A Rose is a Rose is a Rose
2016 | Edição Autor | Alternativo, Pop

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Uma rosa é uma rosa e será sempre uma rosa, cada coisa é a sua essência em si por mais diferentes ângulos em que seja contemplada e a essência da música de Francisco Silva, o homem por trás do nome Old Jerusalem, continua intacta e fiel à beleza poética que sempre lhe conhecemos. A Rose is a Rose is a Rose, título emprestado das linhas de um poema de Gertrude Stein, traz-nos neste incipiente março a certeza de que estamos perante um dos mais harmoniosos álbuns do ano. É-nos difícil perceber como, sendo este o seu sexto trabalho, Old Jerusalem parece ser ainda um segredo bem guardado do público português. Talvez seja porque não nos ocorre nenhum outro cantautor em Portugal que seja tão irmão dos muitos brilhantes singer songwriters que a América nos tem oferecido. E trilhar um caminho sozinho pode por vezes afastar a multidão, mas A Rose is a Rose is a Rose promete levar o músico portuense de encontro a essa multidão.

Ao contrário do seu anterior álbum, onde sozinho procurou reconectar-se ao início de tudo, o homónimo de 2011, neste último trabalho Francisco Silva optou por se rodear de amigos de muito talento, colaborações que fizeram a sua composição brilhar numa nova luz, mas com a mesma natureza de sempre (já aqui dissemos que essa é impossível de mudar). A amizade com Filipe Melo, um dos melhores músicos de jazz portugueses actuais e artista que se desdobra em muitas outras aventuras (no mundo do cinema, da banda desenhada e também com um futuro promissor no humor), começou no concerto de homenagem a Bernardo Sassetti há alguns anos atrás. A colaboração surgiu naturalmente e Filipe Melo, com o seu piano e encarregando-se da composição dos arranjos de cordas, trouxe a muitas faixas uma roupagem jazzística e orquestral.

É impossível não nos sentirmos de imediato arrebatados pela carga dramática que os violinos e o violoncelo conferem à música de abertura “A Charm”, a partir daqui basta deixarmo-nos fluir na forte corrente que se espraia na doce e honesta “Airs of Probity”. O rio segue sinuoso pela batida jazz daquela que será das faixas mais interessantes do álbum e com a qual partilha o título. É aqui que se levantam as questões que importam e que incomodam: “The passing days suggest that something should somehow move on/ But is there really time and should something be made of it?”. Quando iremos perceber que seguir em frente nem sempre é forçar uma mudança, que somos quem somos, até ao dia em que já não o somos mais? A beleza poética de Francisco Silva reside nesta capacidade de pegar em detalhes assim, dos nossos dias, transformando-os em símbolos de coisas maiores e de repente a loucura juvenil de uma tempestade de verão leva-nos a questionar o amadurecimento e as responsabilidades de uma vida adulta, quando somos apanhados pela sonhadora “Summer Storm”.

Em A Rose is a Rose is a Rose há também aquelas “stories for the time spent in the United States” e “One for Dusty Light” é a sua faixa mais solta e animada, faz-nos bater o calcanhar no chão e respirar a poeira da folk americana, afinal as influências de Old Jerusalem são muitas e é fácil pensarmos em nomes como Bill Callahan, Mark Kozelek, Iron & Wine ou até mesmo um Bon Iver quando nos chega a suave e bonita sobreposição de vozes de “Tribal Joys”.

É um álbum para ser respirado em diferentes fôlegos, por vezes devemos contemplá-lo entregues à sua delicada musicalidade, por outras devemos escutá-lo com a mente desperta a todas as suas palavras. Mas A Rose is a Rose is a Rose é sobretudo um álbum de reconciliação com nós próprios, um abraço ao presente,  a honestidade de aceitarmos as nossas falhas e com elas crescer, não fossem as suas últimas palavras “you’re perfectly able to grow firm and stable and free of regret”.


sobre o autor

Vera Brito

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