Carcass

Surgical Steel
2013 | Nuclear Blast | Death Metal

Partilha com os teus amigos

Dando uma rápida olhadela a 2013, parece que vemos mais um bom ano recheado de álbuns de regresso. Enquanto “13” dos Black Sabbath ainda faz abanar muitas cabeças – num bom sentido – os fãs de música extrema aguardavam ansiosamente o regresso dos Carcass aos discos, algo que já chegou a parecer fora de questão.

17 anos fora de estúdio não é brincadeira. Havia uma possibilidade de sair uma desilusão que orientasse para mais uma audição de “Necroticism – Descanting the Insalubrious” e para mais um olhar desapontado para “Swansong”, que ainda não teria sido emendado com este tardio sucessor. Também se colocava sobre a mesa a possibilidade de recebermos um registo nostálgico, a lembrar o mundo porque é que os Carcass são das bandas mais influentes no espectro do metal extremo. O que talvez não se esperasse é que saísse daqui um petardo de disco a fazer os Britânicos parecer uns relaxados que chegaram agora ao pique das suas carreiras, sem qualquer indício de quase duas décadas sem colocar algo no mercado.

Só alguém em constante negação e com pouca noção esperaria mais um “Reek of Putrefaction”. “Symphonies of Sickness” ainda é demasiado transitório para ter qualquer sucessor na sua onda. E um sucessor directo do melódico “Swansong” não encheria as medidas de muitos – por muito boas que sejam muitas das suas malhas. Mas misturando muita da agressividade de “Necroticism” com a melodia iniciada em “Heartwork”, regado com uma produção mais moderna e bebendo um pouquinho da fonte de música extrema mais actual, obtém-se a receita que faz de “Surgical Steel” um álbum tão surpreendentemente rico. O posicionamento sugerido por Jeff Walker como o elemento que faltava entre “Necroticism” e “Heartwork” não se pode considerar errado, mas a melhor maneira de encarar isto é como o é: o sexto disco da banda Britânica, aglomerando tudo de bom que eles sabem fazer e já fizeram e com capacidade para ser colocado ombro a ombro com outros dos seus grandes registos.

Onze temas a dar-nos tudo aquilo que queremos e que os Carcass ainda fazem como se nada se tivesse passado, nem dezassete anos. Os riffs ainda orientam as canções da sua habitual forma frenética, quer seja na forma mais catártica presente na breve “Thrasher’s Abattoir”, que serve aqui de despertador, ou na sua forma mais melódica, capaz de influenciar o death metal Sueco a nascer de novo. Essas guitarras ficaram todas, e bem, a cargo de Bill Steer, já que Chris Amott tinha outras coisas com que se ocupar. Já a bateria, bem carregada de blast beats quando são necessários, ficou a cargo de Daniel Wilding, já famoso nos Trigger the Bloodshed, que tem menos anos de vida que a própria banda, mas comporta-se como gente grande e adapta-se como se tivesse crescido com os restantes. A voz é outra parte que continua em forma impecável e Walker ainda é capaz de nos levar até aos tempos do “Necroticism” através da forma tão ameaçadora como cospe as letras, essas mesmas ainda capazes de encorajar malta a seguir medicina ou a trabalhar numa morgue.

É uma enumeração de ingredientes já habituais na música dos Carcass. Mas a sua execução é demasiado perfeita para passar como apenas mais um registo da banda e a sua adaptação aos dias actuais é mais um ponto a louvar. Fazem os dezassete anos de ausência em disco parecer apenas uns simples dois ou três; e tinham dentro de si um disco muito sólido para alguém que afirmava há uns anos atrás que não tinha vontade ou intenção de gravar mais nada. Então, aliviem-se os cépticos e alegrem-se os que tinham as expectativas em alta: já não há tanta necessidade de continuar a ouvir apenas os álbuns antigos até à exaustão, quando já aqui está um tremendo novo álbum para devorar. Afinal esta carcaça até está bem viva…


sobre o autor

Christopher Monteiro

Partilha com os teus amigos