Já seria de esperar que um género como o slam death metal eventualmente pegasse moda, tão galhofeiro é o povo que alinhasse em algo assim. Com uma enchente de bandas a surgir, poucas com nomes, títulos e artes pronunciáveis em ambientes familiares, que ainda eram favorecidas por festivais dedicados ao subgénero, a inserção de tanta banda que acaba por soar semelhante foi de certa forma facilitada. Mas, como em qualquer moda, há sempre pelo meio quem se destaque, alguns que dêem o pontapé-de-saída para a bandwagon, alguns simplesmente melhores. E mais memoráveis, bem além do nome mais curto e compreensível.

E do meio do surto cá em Portugal, pode preferir-se os respeitáveis Serrabulho para a borga. Para um lado menos alegre e orgulhosamente apatetado, e mais virado para a brutalidade na sua directa simplicidade, destacam-se os lisboetas Analepsy. Menos voltados para o material “XXX” e coisas que só se vão encontrando por subgéneros musicais desta família e na dark web e mais focados numa vertente sci-fi e pós-apocalítpica, os Analepsy nunca perdem a noção da verdadeira essência que dá encanto a este estilo: a castanhada, os riffs brutos e o peso avassalador.

Com talento musical suficiente para que haja espaço para se exibir de vez em quando – talvez muitos assumissem, à primeira vista, que esta seria mais uma daquelas bandas de death metal técnico – e sem renunciar a uma melodia que fique ali a massacrar o ouvido, ainda sabem o que importa e não se afastam do núcleo que são os riffs brutais, típicos do slam, bem suplementado por squeals profundos de Diogo Santana que verdadeiramente intimidam, a proporcionar canções que justificam o hype à volta do jovem quarteto e uma potencial liderança no género que se lhes poderá associar. Pode não ter tanto daquele breakdown grave que até puxa a um bailinho mas até tem melhor. Com pouco a detalhar em relação a um género tão directo, ainda se podem destacar temas como a entrada violenta a pés juntos que é “Apocalyptic Premonition”, uma “Rifts to Abhorrence”, “Witnesses of Extinction” e aquele estupendo solo que se destaca aqui, mesmo que não seja uma prática exclusiva desta faixa e o belo e tenebroso brinde instrumental que é “Depths of Agony”. Meros exemplos, a vertente é sempre a mesma.

Ao fim e ao cabo, os Analepsy estão aqui a inventar absolutamente nada. O que estão a fazer é brutal/slam death metal como mandam as regras, só o fazem melhor que muitos da “concorrência”. Apresentam em “Atrocities from Beyond” um simples, directo e curto – não é muito mais extenso que o EP de estreia “Dehumanization by Supremacy” – argumento para se destacarem de outras bandas semelhantes e fazem-no bem feito, apresentando razões para os tornarmos a ouvir e não serem simplesmente uma banda de quem se pega no CD para ficar horrorizado com a capa ou para rir com alguns dos títulos das músicas. Não, justificam bem o porquê do buzz à sua volta não ser apenas nacional. E devem sobreviver bem à passagem da moda. E isso já é tão bom!

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Christopher Monteiro

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