Reportagem


Russ

This is the biggest show in my entire career

Altice Arena

07/03/2018


Uma semana antes da estreia de Russ em Portugal, perguntávamo-nos se o rapper de Atlanta conseguiria esgotar a Altice Arena, relembrando o brilharete de bilheteira quando vendeu todos os bilhetes disponíveis para o Coliseu dos Recreios, a sala inicialmente prevista para o concerto, em cerca de 36 horas, levando a organização a procurar um espaço maior para acolher o fenómeno.

Russ não esgotou a Altice Arena, mas não esteve muito longe disso, o segundo balcão esteve fechado é certo, mas a plateia esgotou e treze mil pessoas foram testemunhas daquilo que o próprio reconheceu como “the biggest show in my entire career”. Que um dos rappers/produtores/músicos americanos (porque Russ é tudo isto), mais bem sucedidos desta geração internet DIY, cruze um oceano e venha encontrar aqui no nosso modesto Portugal um dos maiores concertos da sua carreira é também em si um outro fenómeno difícil de explicar, sobretudo quando comparado com outras plateias europa fora, bem menores, que receberam esta There’s Really A Wolf In Europe Tour.

Olhamos para o mar de gente que se acotovela para chegar mais à frente, dando até a sensação de que teria sido possível encaixar mais umas dezenas ao fundo da plateia, e não restam dúvidas, o público que recebe Russ em euforia nesta noite é bastante jovem, maioritariamente adolescente. Ainda antes do rapper entrar em palco a energia já é elevada, entre as muitas palmas e muitos gritos canta-se com garra o hino nacional da mesma maneira com que se exulta cada aterragem bem sucedida em palco de preservativos insuflados de ar – entusiasmos que a idade não esconde.

Insistimos na faixa etária porque ela é a resposta a todos aqueles que há meses atrás perguntaram “quem é este tipo que esgota assim um coliseu?”. Os que foram ao Google em busca de mais informação terão reparado que à excepção dos vídeos de YouTube que contam com milhões de visualizações, pouco mais é possível encontrar sobre o rapper. Russ fintou os canais musicais comuns, desde as publicações e rádios mais mainstream às mais independentes, provando que estes meios de comunicação são cada vez mais irrelevantes no consumo de música no público mais jovem.

E não se pense que Russ construiu esta base de fãs com apenas alguns singles bem sucedidos. “What They Want”, talvez a sua música mais conhecida, abre a noite com estrondo e em tom de afirmação de que o rapper não precisa de guardar êxitos para o final da noite. Sente-se até alguma ironia quando pergunta ao público “how many of you here got my debut album?”. There’s Really A Wolf, que dá nome à digressão, editado no ano passado e com o selo da Columbia Records, pode até ser considerado o seu álbum “estreia”, isto se ignorarmos as várias dezenas de músicas anteriormente partilhadas no SoundCloud, ou ainda antes disso os outros 11 álbuns que compôs e que estão disponíveis online.

Apenas acompanhado de um MC em palco e dono de uma voz que tanto nos consegue surpreender pelo seu lado áspero, como pelo doce, em todo o alinhamento não parecem exister canções menores e todas as músicas soam a hits. Os momentos mais emotivos ocorreram nos versos à capela sincronizados com a multidão em “Ride Slow” ou em “Do It Myself”, repetida no encore, com toda a crew, amigos e até mesmo a sua mãe em palco, para quem Russ pede ainda mais barulho à sala. Arriscou-se nesta noite a perda de vários decibéis de audição, sobretudo pela histeria exarcebada do público, que ofereceu a si mesmo e a Russ uma noite memorável, daquelas que é obrigatório repetir.


sobre o autor

Vera Brito

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