Reportagem


Rock In Rio-Lisboa

Parque da Bela Vista

27/05/2016


Depois de uma semana de descanso regressamos de baterias carregadas para mais um dia de muita música no parque da Bela Vista. Chegava o terceiro dia de festejos de 30 anos de Rock In Rio, ainda que não no Rio mas sim em Lisboa, e o dia prometia bastante, especialmente para um misto de público fã de música mais pesada e também, porque não dizê-lo, de cinema. Os canadianos Metz, Korn e Hollywood Vampires eram as principais bandas a gerar corridas para as primeiras filas.

Para além de Metz, o Palco Vodafone contava também com duas promessas nacionais, cada vez mais confirmadas, vindos das Caldas da Rainha os Cave Story abriam e de Barcelos vinham os Glockenwise. Já no Palco Mundo os americanos Rival Sons também prometiam um bom espectáculo.

Há hora marcada e com pouco mais que os repórteres e algumas pessoas da equipa técnica do Rock In Rio lá subiram os Cave Story para abrir o dia no Palco Vodafone. Mal a actuação começou pareceu ter soado uma campainha e as pessoas, ainda que lentamente, foram-se aproximando e aglomerando, muitas delas talvez estivessem retidas nas longas filas para entrar ou no trabalho. Apesar da guitarra ter estado geralmente um pouco mais estridente do que devia, a banda pareceu querer agarrar a oportunidade de tocar num grande festival com unhas e dentes e a performance fez passar por vezes alguns laivos Nirvanescos com a guitarra a ser quase agredida. Não tocaram o seu Spider Tracks tal e qual com o mesmo alinhamento e tiveram como momento mais calmo Fantasy Football, mas onde o público se associou mais à banda foi no single Southern Hype.

Vindos de um pouco mais longe mas ainda assim a cumprir o horário estabelecido (algo que já não acontece tanto noutros palcos) os Glockenwise foram a banda que se seguiu. Trouxeram essencialmente o seu mais recente álbum Heat, lançado no final do ano passado, que consequentemente mostrou o lado mais dançável do concerto, a prová-lo está a excelente reacção à música que dá o título ao álbum. Ao contrário do que aconteceu com Cave Story, os Glockenwise decidiram tocar bem à frente no palco, ainda assim fizeram-no ocupando um espaço bem reduzido o que por duas ou três vezes quase que fez com que o Nuno (guitarrista e vocalista) quase acertasse com a sua guitarra no teclado. Ainda que o concerto tenha sido essencialmente focado no último álbum, músicas como Leeches do álbum anterior ou Bardamu Girls do primeiro álbum também foram escutadas. A banda provou mais uma vez que apesar de se auto-intitularem uma banda de “Garage-Rock” sabem muito bem misturar as distorções e o som limpo das guitarras.

Que melhor mote poderíamos ter que pegar nas distorções e nos sons altamente comprimidos para fazer a ponte para a banda que se seguiu, os Metz, a banda deste palco que melhor encaixava com o título de “dia mais pesado” do Rock in Rio-Lisboa. Ao olhar para o palco e especialmente para a monição do baterista percebia-se logo que algo com muitos decibéis e bem pujante se iria passar por ali e que Hayden Menzies precisava de ouvir bem. A plateia daquele palco por esta altura estava bem repleta e provavelmente com a maior audiência até aquele dia. Mal o concerto começou percebeu-se uma pujança avassaladora vinda do som daquele baixo juntamente com o bombo, era praticamente como levar um murro, algo que até começou um pouco exagerado mas foi rapidamente corrigido. O que praticamente começou também com início do concerto foi o que podemos chamar de “zona de impacto”, aos primeiros rasgos de som ali bem em frente ao palco o círculo abriu-se e o moche foi uma constante, ora mais povoado ora menos, ora maior ora menor mas esteve sempre presente e foi especialmente usado em músicas como Acetate, Wet Blanket ou Spit You Out. No meio disto tudo ainda deu para um primeiro “esbarranço” de Alex Edkins ao subir para o estrado da bateria, mas nem isso o impediu de mais tarde ir tocar mesmo para cima do bombo. Resumindo, um concerto avassalador e que facilmente entra para o top dos concertos deste Rock In Rio-Lisboa, ainda que tenha acontecido num palco secundário.

Quando os Metz acabaram já os Rival Sons actuavam no Palco Mundo, mas foram poucos os que conseguiram fazer a transição directa de um palco para o outro, a pujança dos Metz deixou praticamente toda a gente com a necessidade de ir jantar antes da próxima ronda, afinal também eram os Korn a banda no palco principal que muitos destes aguardavam e queriam realmente ver, o que acabou por ser uma pena até porque com todas as vicissitudes os Rival Sons acabaram por ser do melhor da noite, tendo em conta o que se ouvia ainda que há distância.

Era então tempo para os Korn entrarem em palco e a vontade de perceber se o tempo destes já tinha passado era mais que muita, esperava-se especialmente que assentassem o seu setlist naqueles discos ali entre 1994 e 2004, discos esses mais acarinhados pela maioria dos fãs. Começaram bem tendo em conta esses anseios, ao primeiro ligar das colunas o que se ouvia era aquele prato meticuloso, guitarra e baixo misteriosos que servem de introdução para Blind, música do homónimo de 1994, mas que mal começado e ainda antes do refrão o som desapareceu. Tratava-se de um problema técnico e a banda viu-se obrigada a sair do palco, voltando algum tempo depois para pegar na mesma música, e ver acontecer-lhes exactamente o mesmo problema, na mesma parte. Por esta altura começava-se a temer o pior e uma voz em português e muito pouco entusiasmada veio falar aos microfones dizendo que a banda estava a passar por alguns problemas técnicos mas que já estavam quase resolvidos e iriam voltar para dar um excelente concerto. O “quase” acabou por demorar bastante tempo e o público estava a começar a ficar impaciente. Quando à terceira a banda retorna, Blind fica para trás e começou-se a ouvir Here To Stay, preenchida no palco com umas luzes vermelhas. Houve algum medo tanto da banda como do público neste reatar mas cedo esses receios se dissiparam e todos começaram a ganhar confiança, mas não era mesmo o dia dos Korn, tanto azar que no curto tempo de concerto chegou a dar para Jonathan Davis dar uma pequena queda em palco. Foi tudo sol de pouca dura, pouco mais de 20 minutos passados e no meio da sua versão de One dos Metallica, bem quando o público se preparava para entrar em êxtase que o som voltou a ir a baixo abruptamente, fazendo a banda não mais regressar ao palco. Ao que tudo indica e é avançado pela organização do Rock In Rio trataram-se de problemas técnicos com o equipamento da banda e o concerto dos Hollywood Vampires não seria afectado. No pouco tempo que conseguiram realmente actuar os Korn mostraram que ainda estão para as curvas com o seu som pujante e a voz de Jonathan continua a deixar gente de boca aberta com as derivações entre os gritos e quase falsetes, dando ainda para este mostrar os seus dotes a tocar gaita-de-foles em Shoots and Ladders e ouvirmos músicas tão aguardadas como Somebody Someone ou Falling Away From Me. Após este final, foram muitas as pessoas a abandonarem o recinto, a fazerem reclamações e gritarem impropérios para a organização.

Seguiram-se então e rapidamente os Hollywood Vampires e foi impressionante perceber como essencialmente a presença de um actor como Johnny Depp só por si fez tanta gente assistir ao concerto, apesar de tudo o sentimento geral já não era o melhor. A banda entrou pronta a testar os volumes ao limite com o objectivo ou de puxar pelo entusiasmo da audiência ou simplesmente de demonstrar que os problemas técnicos anteriores não eram culpa da organização. Sem muito material original para mostrar a banda assentou o seu alinhamento em versões como My Generation (música dos The Who) ou Whole Lotta Love (dos Led Zeppelin), ainda que por vezes essas versões não tivessem sido assim tão bem executadas. Visualmente o espetáculo também não foi tão interessante quanto isso apesar da performance da banda em palco ter sido de grande qualidade, tendo chegado até para Joe Perry destruir uma guitarra durante My Generation em jeito de homenagem a Pete Townshend, guitarrista dos The Who e conhecido também por dar o mesmo tratamento às suas guitarras.

Resumindo, um dia onde o Palco Vodafone esteve muitíssimo bom, com talvez a maior enchente até agora, prometendo muito para o resto da noite que acabou por ser uma desilusão, mas é normal por vezes estas situações acontecerem, de louvar a capacidade dos técnicos conseguirem que elas sejam raras.

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Joao Neves

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