Reportagem


Father John Misty

Sempre encarnando a sua persona de douchebag de Hollywood, domina o palco mal entra nele.

Praia Fluvial do Taboão

15/08/2019


© Hugo Lima / Vodafone Paredes de Coura 2019

Numa noite cheia de sacerdotes, Father John Misty voltou a Coura quatro anos depois da estreia para chinelar no palco e derreter uns corações de gente incauta e necessitada de afecto e de folk.

Sempre encarnando a sua persona de douchebag de Hollywood, domina o palco mal entra nele. E como canalha que é, põe logo a febra (salvo seja) a assar, precisamente com Hangout at the Gallows Hollywood Forever Cemetery Sings. Com arranjos de sopros e um peso (até ali na cintura, malandro) que nunca lhe vimos, é demasiada sacanagem em tão poucos minutos. Jesus Christ, man.

Com concertos seus em Portugal TODOS os anos desde 2015 (lembrem aqui 2017 e 2018), bem poderíamos todos estar fartos dele; mas misteriosamente Josh Tillman continua a cativar-nos. Pudera, com canções como Mr. Tillman ou The Night Josh Tillman Came to Our Apt. (com o videoclip a passar lá atrás e Nilsson e John Denver pelo som da canção) não há aborrecimento que aguente.

Se o vejo agora mais pesado no som e complexo nos arranjos, não mudou o serpentear pelo palco com que brinda a malta. Dispensava-se andar descalço pelo palco, que isso era exclusivo de Cesária Évora. E por falar em música tradicional dos povos, antes de Disappointing Diamonds Are the Rarest of Them All anuncia que “esta é uma canção tradicional de folk!”, respondendo alguém na plateia “Ó MALHÃO, MALHÃO!”. Humor com humor se paga e Jonathan Wilson a rir algures.

Não só apenas da folk viveu o concerto de Father John Misty, que houve tempo para uma True Affection ou o padre João a dar uma na electropop. Também houve tempo para sarcasmo contra os idiotas dos cartazes que, segundo o cantautor, precisarão de um grupo de apoio psicológico.

Em poucos anos de carreira acumulou um catálogo impressionante e alguma coisa boa teria de ficar de fora: não se ouviu Only Son of the Ladiesman. Compensou-se (para derreter ainda mais as fãs) com Chateau Lobby #4 (in C for Two Virgins) – sonhos molhados algures no Chateau Marmont, que toda a obra de Tillman respira e é torturada por Los Angeles, cidade que cria e mata expectativas como um festivaleiro de Coura mata vespas no campismo.

Holy ShitI Love You, HoneybearDate Night fecharam um concerto bem puxado, com todo o drama de Tillman esparralhado no palco na do meio enquanto chorava o refrão (e para que raio quer ele três guitarras acústicas diferentes?) de I Love You…. Ah, folkista!


sobre o autor

José V. Raposo

Partilha com os teus amigos