Reportagem


Radio Moscow + Fuzzil

Avalanche de rock

RCA Club

21/03/2019


Para quem quisesse passar uma boa hora imerso em solos de guitarra épicos, perdido numa via láctea de rock psicadélico, bastava ter passado na semana passada pelo RCA Club para o concerto de Radio Moscow. Aliás, não bastava apenas passar pela sala de Alvalade, era preciso ter também bilhete no bolso, porque o trio norte-americano esgotou ambas as duas datas reservadas para Portugal, em Lisboa e no Porto.

Não nos surpreende que bandas como Radio Moscow esgotem salas, mesmo que modestas, com muitos fãs fervorosos, completamente devotos ao trio norte-americano (esta vai para o rapaz que numa das laterais do primeiro piso nos pareceu ter sentido o concerto da banda como mais ninguém). Fãs que ao primeiro acorde já têm o nome da música na ponta da língua e fazem apostas à setlist de sonho. Fãs que semicerram os olhos em transe nos solos desmedidos que Parker Griggs vai despejando sobre nós na sua guitarra, música após música. Já para os não fãs, ou melhor dizendo, para os que não são conhecedores acérrimos dos Radio Moscow, a verdade é que foi difícil destacar momentos do concerto da passada quinta-feira. Ao comentar a noite com alguns amigos presentes tenta-se chegar a um consenso em qual terá sido aquele solo mesmo espectacular: “- Foi na “Deceiver”? – Não, não, acho que foi na “No Good Woman”, depois do solo da bateria. – Sabes que mais, acho que foram todos bons”.

Os Radio Moscow, todos eles exímios nos seus instrumentos, pecam por uma certa homogeneidade na sua matriz sonora, com poucos momentos em que conseguem realmente fugir às suas próprias fórmulas. E se o virtuosismo de cada elemento impressiona, no final do concerto fica-nos a sensação de que com um pouco menos poderia ter-se conseguido um pouco mais. Talvez por isso nos tenha sabido especialmente bem mergulhar nas águas escuras do blues lento de “Deep Blue Sea”, a única para o disco homónimo estreia da banda, de 2007, apadrinhado por Dan Auerbach (The Black Keys).

Desde que Parker Griggs formou os Radio Moscow em Iowa, ao virar do milénio, já se perdeu o rasto a todos aqueles que em diferentes épocas entraram e saíram da banda. Anthony Meier e Paul Marrone, assumem actualmente o baixo e bateria, respectivamente, mas a lista de antigos membros da banda é extensa e casos houve em que as saídas não foram propriamente pacíficas, envolvendo guitarras a voar em palco e vários pontos na testa de Griggs. Momentos tumultuosos algo difíceis de associar a uma banda com a boa vibe dos Radio Moscow, até porque, Parker Griggs, mesmo não sendo o mais esfuziante comunicador que já vimos, parece-nos ser um tipo bastante simpático. O rock tem destas coisas.

No RCA Club não se viu nem uma guitarra voadora, só mesmo os dedos de Griggs a voar por entre os trastes da sua guitarra e as baquetas de Paul Marrone a varrer a bateria, com Anthony Meier a ligar tudo no seu baixo tenso. Uma setlist, no geral, bem repartida pela discografia do trio, que terminou num encore pedido com muito entusiamo, fechando a noite com o blues suado de “250 Miles” e com mais uma avalanche de rock em “Pacify”, deixando o RCA transpirado, por entre as nuvens de fumo que no final invadiram a sala, alheias a proibições, como todo o bom rock’n’roll deve de ser.

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Vera Brito

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