Reportagem


Adele

MEO Arena

21/05/2016


© Alexandra Waespi

Fazendo-se valer de uma naturalidade genuína e de um repertório de luxo, Adele passou com distinção na primeira de duas datas que marcam a sua estreia no nosso país. Com ambos os espectáculos esgotados em tempo recorde, na primeira noite nada ficou por cantar, emocionou e emocionou-se.

Logo de início, em tom humorístico, Adele gracejou dizendo que se estávamos à espera de um concerto animado, iríamos ficar muito aborrecidos. No entanto, o que aconteceu foi o oposto. Apesar de ser um repertório pautado pela melancolia e tristeza, a alegria contagiante da cantora britânica não deixou ninguém indiferente. É-lhe característico um “à vontade” que não é imposto pelo marketing, mas sim por se notar que é uma pessoa comum, sem manias de diva e pronta a falar com os fãs como se os conhecesse há muito. Houve, de facto, momentos de ir às lágrimas mas a gargalhada geral foi imperativa.

Ao entrar no recinto, deparámo-nos com uma imagem de fundo com os olhos fechados da cantora. Começava a fervilhar a ansiedade. Neste caso, a pontualidade britânica falhou por 10 minutos depois das 20h e do meio do palco surgiu a figura mais esperada da noite.

Do silêncio surge um “Hello”, provocando uma histeria colectiva. De telemóveis em riste, o público desde logo que quer gravar todos os momentos. Todas as faixas são um momento de ouro para guardar para mais tarde. E quem fica mais atrás é isso mesmo que vê, o concerto através de ecrãs pequeninos. Estranhamente, a acústica do recinto não falha assim tanto desta vez e permite uma excelente experiência a nível de som.

O alinhamento foi composto pelos três álbuns, sendo que 19 foi o menos tocado, mas ainda assim arrebatou o público. Dele saíram as faixas “Hometown Glory”, a segunda canção da noite e acompanhada de projecções de Lisboa vista de cima, a cover de Bob Dylan “Make You Feel My Love” e mais para o final “Chasing Pavements”. A noite foi de várias emoções e se em “Rumour Has It” o público respondia efusivo com palmas coreografadas, em “Don’t You Remember”, mais quieto, puxava pela garganta até aos píncaros. As conversas que intercalavam as canções foram uma constante e ficamos a saber como Adele nunca tinha estado cá e que gostou imenso de ir jantar a um restaurante tipicamente português ou de como Bruce Springsteen lhe emprestou o seu casaco, na passada quinta-feira, no Rock in Rio-Lisboa.

Em “Million Years Ago”, passados dois ou três versos, Adele interrompe abruptamente com um “Wrong words! Shit! Sorry!” e o que parece ser um momento embaraçoso para qualquer artista, aqui torna-se mais uma tirada hilariante e ninguém se importa. Aliás, nem teríamos notado muito. De fora não ficou também a canção com a qual ganhou um Óscar, “Skyfall”, que integra a banda-sonora do filme 007: Skyfall.

Não só de portugueses se compunha o público: milhares de espanhóis, britânicos, brasileiros e até escoceses estavam no concerto. Adele fez questão de se enrolar numa bandeira do nosso país e mais à frente numa do Brasil, prometendo que visitaria o nosso país irmão. Também fez subir ao palco dois pequenos fãs e levou uma MEO Arena em peso a cantar um “Happy Birthday” à pequena Catarina. Certamente um momento que vão guardar para a vida.

“Someone Like You” era uma das mais esperadas da noite. No mini-palco que se situa a meio da sala, uma projecção em quatro frentes centraliza Adele, que nos deixa cantar o refrão até as cordas vocais não poderem mais. Talvez um dos momentos mais gratificantes da noite, com um público a cantar em uníssono e com a lanterna do telemóvel ligada, a pedido da cantora. Segue-se “Set Fire to the Rain” no mesmo palco, e uma cortina de “chuva” envolve a artista, para surpresa de todos. O alinhamento principal é assim fechado em grande e deixando expectativas para os momentos finais.

Para o encore ficou “All I Ask”, do novíssimo 25, uma faixa com uma das letras mais pesarosas e que pela melodia nos remete para as divas dos anos 90, como Whitney Houston ou Mariah Carey. De seguida, Adele contextualiza-nos para “When We Were Young”, uma faixa que escreveu por se sentir triste com a fuga da juventude, por perceber que já não é adolescente. O tempo passa e não nos apercebemos do quanto gostamos de ser crianças e adolescentes, reconhecendo isso quando já passámos por essa fase. No fundo vemos várias fotografias de Adele em tenra idade, até chegar à idade adulta. A última imagem mostra Adele grávida arrancando aplausos de todos. O concerto finaliza com “Rolling In the Deep”, o porta-estandarte de 21 e mesmo tendo passado duas horas e por 18 canções, ninguém esmorece. No final, há uma chuva de confettis personalizados. Cada papelinho tem uma frase de cada canção. Podemos ler “Hello”, “We could have had it all” ou “Thanks for coming!”.

Depois de referir que esta tinha sido a plateia mais barulhenta que vira em toda a sua vida e de afirmar no final do concerto que este tinha sido o melhor de sempre, somos levados a crer que se não foi, então esteve muito perto de ser especial. Nada faltou, entre as lágrimas, as memórias e as alegrias, os risos espontâneos e a felicidade de partilhar uma experiência única que mais uma vez glorifica a música e nos relembra o que ela pode fazer por nós.


sobre o autor

Andreia Vieira da Silva

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