Música no Cinema Americano no Porto

Na passada sexta-feira, a Casa da Música esgotou a sua sala maior e levou ao seu público três peças clássicas popularizadas por, mais do que participarem, protagonizarem filmes americanos. A Orquestra Sinfónica do Porto brilhou nos nossos olhos, dirigida por Takuo Yuasa.

A noite começou com “Adagio for Strings” de Sam Barber, sob o pretexto de ter sido utilizado em “Platoon“, drama de guerra de 1986, realizado por Oliver Stone e protagonizado por Charlie Sheen. Mas é muito mais do que em “Platoon”: entre outras coisas, é a peça clássica mais vendida no iTunes, foi tocada no funeral de Albert Einstein, e foi tocada na União Soviética durante a guerra fria, apesar de ser norte-americana.

A noite prosseguiu então com João Bettencourt da Câmara a encabeçar o Concerto nº2 para piano e orquestra de Sergei Rachmaninoff, que surgia em “Brief Encounter” de David Lean (1945). Devo confessar que fiquei desiludido no 2º andamento, não devido à rendição – que foi exímia – mas porque me apercebi que David Lean inspirou-se para a “All By Myself” nesta obra do compositor russo (pesquisei na internet, mais gente fez essa associação).

A noite de bandas sonoras históricas e icónicas terminou com “Also Sprach Zarathustra”, de Richard Strauss, que de tão indissociável do filme de Stanley Kubrick que é, chega a ser commumente referido como «a música do 2001 Odisseia no Espaço». É curioso como a famosa aurora do Homem é apenas uma ponta no iceberg, de uma obra extensa que percorre a jornada filosófica da obra homónima de Nietzsche na qual se baseia.

No fim conseguimos recordar os momentos dos filmes, de como as músicas se incluem nos seus contextos narrativos ou mesmo conceptuais, e dei por mim a tentar colocar-me no papel de cada um dos realizadores a tentar compreender a escolha e a associação que foram feitas. De igual modo, embora de uma forma simétrica, também é um exercício interessante abstrair dos filmes e tentar apreciar as músicas sem distracções, despidas de associações culturais.

Uma noite inesquecível na Casa da Música e de louvar pela originalidade, e pelo apelo lançado a um público que possivelmente não é mais assíduo na Sala Suggia.