Músicas da Semana #225 com Galo Cant'Às Duas
por Arte-Factos em 2 de Abril, 2017

Escolhas de Galo Cant'Às Duas
Surma - Maasai (Gonçalo Alegre)Conheci a Débora no festival TRC ZigurFest em finais de 2016, tocávamos no mesmo dia, Galo Cant’às Duas e Surma em zonas diferentes, e naturalmente nos cruzámos e reconhecemos, de fotos possivelmente e coisas da net . Teve tanto de mágico como de natural este “cruzamento”, a sua leveza, simpatia e bondade vive tanto na pessoa que ela é como na música que faz. O concerto no Teatro Ribeiro e Castro foi mágico como a Débora é magia. Permanece a magia.
Radiohead - Daydreaming (Gonçalo Alegre)Uma boa parte da minha vida foi e continua a ser dedicada a Radiohead, haverá muitas coisas que não saberei nunca explicar desta minha relação com a banda. Fico no sonho de quem procura no sonho um dia melhor para melhor compreender este apego.
YES - The Solid Time Of Change (Hugo Cardoso)Depois de um concerto, com um grupo de amigos, fechámo-nos numa garagem a ouvir discos variados. Uma partilha enorme de música aconteceu – até que alguém me apresentou este brilhante tema dos YES. Fiquei estupefacto com toda a agressividade, psicadelismo, sensibilidade que acabara de constatar. Os grooves de bateria criados pelo Bill Bruford abriu na minha mente um conjunto de emoções e possibilidades que ainda hoje as tento filtrar. As melodias e métricas da voz do Jon Anderson e o fraseado de sintetizadores de Rick Wakeman fizeram-me entrar num mundo nunca conhecido. O equilíbrio musical entre os 5 músicos é tão bem conseguido! Parece que tudo está onde devia estar, considero perfeito. Este tema/disco está gravado no meu coração e parte da minha sabedoria, criatividade, personalidade devo a ele.
Um disco gravado em Junho de 1972 e ainda hoje actual.
Tigran Hamasyan - Drip (Hugo Cardoso)Tigran Hamsyan, um pianista Armeno que funde a tradição musical da Arménia com o Jazz Norte Americano. Esta fusão fez-me delirar – as poliritmias usadas, a louca improvisação, a forte secção rítmica, as vozes, as respirações… tudo factores que me inspiraram e fizeram com que trabalhasse a explorasse outros tipos de musicalidade no meu dia a dia. Quando conheci o disco ouvia-o todos os dias, e o incrível é que cada vez que ouço ainda consigo descobrir certos pormenores que estão presentes em toda a intensidade crescente. Este tema em específico parte de um motivo rítmico de piano para frases uníssunas e linhas de voz bem celestiais. Os compassos compostos são fundidos nos compassos simples com naturalidade, é como se fosse tudo bem simples. Torna-se difícil passar o que se ouve para palavras. Ouçam e falaremos mais tarde.
Patrick Watson - Step Out For a While (Banda)Achámos interessante inserir um tema que ambos gostássemos. Curiosamente e surpreendente não foi difícil. Para além da voz mágica do Patrick Watson que nos transporta para bem longe, toda a banda tem igualmente essa capacidade. Este tema em particular ganha pela intensidade da harmonia e os grooves dentro e fora do tempo com a simplicidade característica destes músicos. Algo que gostamos de explorar no Galo Cant’Às Duas.
Escolhas de Vera Brito
Sufjan Stevens - Fourth of JulyCarrie & Lowell fez dois anos. Foi para mim o álbum de 2015 e o sentimento avassalador ainda perdura quando me atrevo a ouvi-lo. Murros no estômago a cada música, beleza que fere, dor que transcende. Dificilmente Sufjan Stevens conseguirá fazer um álbum que supere este e a verdade é que não o precisa.
Kendrick Lamar - HUMBLE.A internet tem andado à beira de um ataque de nervos com as pistas que Kendrick Lamar tem deixado para o seu álbum novo, que esperamos que saia já nesta sexta-feira. Um vídeo surreal acompanha esta HUMBLE. com K-Dot a dar cartas na pop e a deixar recados a muitos rappers por aí ou será apenas a Big Sean? Seja como for o que vem aí será massivo, porque entre álbuns ou lados b não há nada que Kendrick Lamar não faça com toque de Midas.
Broken Social Scene - Halfway Home2017 está a ser também um ano de regressos das minhas bandas preferidas. Há poucos dias eram os Do Make Say Think e agora estes meninos.
Dave Matthews & Tim Reynolds - Dreamed I Killed GodA uma semana do que será um dos concertos do ano para mim, já comecei a desenhar setlists impossíveis na minha cabeça, como esta rara “Dreamed I Killed God”. Podia falar-vos de como a minha pancada pela Dave Matthews Band começou à conta não da banda mas do Live At Luther College, gravação acústica de Dave e Tim. A banda veio depois, assim como os seus concertos gloriosos em Lisboa, mas falta-me concretizar este acústico de um dos mais bonitos bromances da música.
Kevin Morby - All Of My LifeBaralhar, distribuir as cartas, jogar de novo e cometer todos os mesmos erros outra vez.
Escolhas de Christopher Monteiro
Pallbearer – ThornsSe puder deixar um riff falar por si, faço isso com este tema do novo álbum dos Pallbearer. Não me adianta muito estar aqui a gastar linhas quando posso deixar este riff justificar todas as repetidas audições que esta música merece.
Depeche Mode – ScumJá são uma banda com um requisito muito baixo para me agradar. E sou dos que acha que não têm nenhuma fase fraca nem têm a idade a estorvar-lhes. Muito rapidamente rendido ao novo álbum de Depeche Mode. A escolha de Scum? Primeira que começou a tocar-se sozinha na minha cabeça.
Napalm Death – Greed KillingEste fim-de-semana passou mais um Moita Metal Fest. Não fui. Continuo pobre. Não aninhei e deprimi por hábito. Nem sei se isso é bom ou mau.
Départe – RuinSão recentes mas sinto que ainda deixei passar muito tempo até descobrir estes barulhentos. Não é coisa que entre a todos que apreciem do black metal mais atmosférico e temperado de sludge. Mas a estes não dá para se acusar de serem repetitivos ou saturados. A voz limpa não entra a todos. Mas encaixa perfeitamente. E Ruin, conclusão do disco, é um final caótico e belo.
Metallica – Am I Savage?É fim-de-semana de Wrestlemania. Que ninguém me julgue.
Escolhas de Sèrgio Neves
Run The Jewels - Legend Has ItPistola e punho. Haverá alguém com um flow tão puro e contagiante a fazer música actualmente com a facilidade com que o fazem os Run The Jewels? Como se os valores de produção e as letras aguçadas e fracturantes não fossem o suficiente para os elevar a um qualquer pódio, ainda nos deixam vídeos incríveis como o que faz regressar esta malha à lista de rodagens.
Syd - Smile MoreA vocalista do excêntrico grupo de neoRnB The Internet, onde partilha direitos de composição com Matt Martians, saída do famoso colectivo de artistas de hip-hop Odd Future, de onde conhecemos também uns quaisquer Frank Ocean ou Earl Sweatshirt, ainda é um nome relativamente desconhecido na indústria por si só, mas que se mostra de forma impetuosa e clara com um fresquíssimo álbum de estreia e uma mão-cheia de saborosos singles.
Palo Sopraño - IglooE falando de frescura, e de álbuns que ainda agora saíram e já nos assolam o dia-a-dia, surge da mediana quotidiana esta pequena pérola de um empreendedor Ryan Pickard, um norte-americano perdido entre os acordes de surfista e os temas choninhas com que constrói o seu novo álbum.
Air - All I NeedNum qualquer passeio sob o sol da primavera, entrar numa loja de discos e dedilhar centenas de capas de vinil, entre elas um ou outro clássico obrigatório, e ainda assim passar pela colectânea dos vinte anos dos franceses e deixar nela o maior dos desejos. Vinte anos, e tudo o que precisamos é de um pouco de ar.
Charles Bradley - ChangesEscolhas de Ricardo Almeida
Protomartyr – MaidenheadO post-punk a fugir para o indie dos Protomartyr foi uma das principais razões da minha estada no Porto aquando do NOS Primavera Sound 2016. Guitarradas incisivas e melodias sedutoras convidam a fingir que se dança. São os Protomartyr e são os maiores.
This Gift Is a Curse – XI: For I Am the FireNum misto de black metal, sludge e hardcore-punk os This Gift Is a Curse, com apenas dois discos, e sem darem demasiado nas vistas, são dos nomes mais sólidos e íntegros do panorama actual no que toca a música extrema. Foi pena só estarem presentes meia-dúzia de gatos-pingados quando os suecos passaram por Cascais e, com um aroma intenso a alcatrão líquido no ar, invocaram Swinelord, numa performance que pareceu ser mais do que um mero concerto.
Pink Turns Blue – Walking On Both SidesJá não tinha a sensação de ser, claramente, a pessoa mais nova num evento há algum tempo. Foi na passada sexta-feira que os Pink Turns Blue animaram a Caixa Económica Operária ao ponto de haver quem tivesse aproveitado uma das músicas para jogar ao jogo das cadeiras. Recordou-se assim o post-punk Joy Divisionesco, enquanto esperamos pelo concerto do Chameleons Vox, a ter lugar lá para o fim deste mês.
Tim Hecker – Whitecaps of White Noise IIPor estes lados o interesse pela ambient não-choninhas é cada vez maior, e não há figura mais incontornável que o mestre Tim Hecker. Mais do que fazer-lhe a caminha e desejar uma boa noite, Hecker confronta o público, metendo-o em sentido com lufadas de fumo e distorção. Se Ravedeath 1972 é ou não o expoente máximo na discografia do canadiano pouco importa. É em Harmony In Ultraviolet que Hecker sente o solo do topo da montanha pela primeira vez, tratando-se de um culminar de tudo aquilo que o músico vinha a explorar e preparar desde que começou a produzir em nome próprio.
Björk – HunterFoi preciso chegarmos a 2017 para eu começar a ouvir Björk. Esta semana escutei o Homogetic várias vezes e ficou mais do que aprovado.