Uniform & The Body

Everything That Dies Someday Comes Back
2019 | Sacred Bones Records | Industrial, Power electronics, Drone metal, Noise

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Qual monstro do qual não conseguimos fugir, ninguém pára os The Body. Dos projectos mais assustadores e interessantes que tenham cavado o seu caminho pelo subsolo acima, a assiduidade dos seus lançamentos, quer sozinhos ou em colaboração, não tem mexido na sua qualidade e cada bicho medonho que deitam cá para fora é pasmo garantido. “Everything That Dies Someday Comes Back” é a segunda colaboração com os não menos ruidosos e mais recém-chegados Uniform em dois anos, estes que também já lhe vão tomando o gosto em ser regulares na cuspideira do seu ruído.

Mantém-se o experimentalismo industrial da colaboração anterior, com essa obscura parede electrónica dos Uniform a tomar o primeiro plano em vez dos riffs de sangue mais sludge que costumam associar-se aos The Body. Sempre com um manto de noise a levá-los para um power electronics tão ou mais intimidante que o de uns Whitehouse, arrastado por um drone metálico que faz descer névoa e escuridão sobre a torturante ruideira. Duetos entre o exclamar punk de Michael Berdan a representar os Uniform e a habitual guinchadeira penosa de Chip King do lado dos The Body, com uma ocasional voz feminina para aguçar o arrepio. É a continuação de “Mental Wounds Not Healing” e o que se espera de uma fusão sonora de dois monstros como são estas duas duplas. Mas com mais experimentalismos ainda. Além de nos quererem atormentar, às vezes parece que também nos querem pôr a dançar, que só é mais assustador ainda.

Vacancy” monta a sua besta sobre uma batida electrónica que podia ser de uns Nine Inch Nails possuídos; “Penance” parece ter alguma banda de new wave da década de 80 enjaulada a tentar batalhar o bicho ruidoso que se sobrepõe; “All This Bleeding” soa a uma total desconstrução de post-punk ou rock gótico; “Waiting for the End of the World” apenas consegue soar a isso mesmo; E, quer estejam preparados para isso ou não, “Patron Saint of Regret” e “Day of Atonement” baseiam-se em beats de hip hop, capazes de fazer até os Death Grips estranhar. Descrições nunca fazem jus ao que realmente se sente ao ouvir um bicho destes e, muito além do assustador e do desagradável, também reina o criativo, apelativo e até sedutor. Já está mais que visto que podem juntar-se a quem quiserem, no espaço de tempo que quiserem. Mas se quiserem mandar já outra colaboração no próximo ano, isto até pode aleijar, mas ninguém se queixa.

Músicas em destaque:

Patron Saint of Regret, Day of Atonement, Waiting for the End of the World

És capaz de gostar também de:

Gnaw Their Tongues, Godflesh, Whitehouse


sobre o autor

Christopher Monteiro

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