Sabemos bem em que ano estamos e também sabemos que há uns anos se deu uma tal catadupa de actos que pareciam não saber ou não querer saber. Essa onda do revivalismo atingiu a sua saturação, vimos o excesso dessas bandas a ser cortado pela selecção natural temporal, ficaram as que valiam mais a pena e vão aparecendo novas que justifiquem o seu aparecimento. Por cá, até nem chegou a acumular-se esse excesso. O que aparecia tinha que ser bom e os The Bateleurs até são recentes e exemplares na forma como se deve fazer disto.
Ao segundo álbum, “A Light in the Darkness“, os Bateleurs vão para além de soar a algo que “nem parece de cá” e não são meramente competentes na brincadeira de soar à moda antiga. Até arrumam logo com a gimmick, a preocupação principal é a de escrever grandes canções, que soem intemporais e não que tenham que soar obrigatoriamente a algo feito em 1971. Claro que as referências estão à vista e vai fazer lembrar esses tempos. Rock psicadélico, blues a monte, soul, gospel, folk, uma bússola que aponta muitas vezes para o Sul dos Estados Unidos, tiques progressivos e muita distorção que totalize num protometal, se é que um termo tão semi-oficial como esse não é um palavrão demasiado feio. E muita malha. E experimentação. Que é o primeiro sinal de que não se estão a deixar limitar por supostas regras de “tem que soar a isto, daquela altura, desta forma”. Conseguem experimentar e soam totalmente à vontade para escrever canções dentro do imaginário que criaram.
Têm as referências Led Zeppelin à mão e nomes mais contemporâneos como Blues Pills sobre a mesa, especialmente na voz. Não se limita a isso. Tomando como exemplo a conclusiva “Before the Morning Is Done“, suavizam a rockalhada para algo mais acústico, clássico, que remonte mais a actos com mais folk como Jethro Tull, Harmonium ou Renaissance; ou uma mais longa “The Lighthouse” que, por muito Zeppelinesca que ainda seja, também soa mais contemporânea e bebe a uma fonte progressiva mais dura, talvez de uns Wishbone Ash. A ideia de como soa é fácil de apresentar, mas o destaque tem que ser feito ao vozeirão de Sandrine Orsini, que até pode ter a referência Janis Joplin metida com quase tanta força quanto se mete alguma pronúncia francesa ao seu nome (lê-se Battlers), que entende-se, mas ainda é muito mais que isso e é um factor que prende verdadeiramente, uma cobertura de ouro sobre algo que já tinha tanto valor. Não importa o ano em que estejamos, os Bateleurs têm que ser grandes.

