Chegou a altura da tarefa ingrata. Não a de ouvir um novo disco de Swans, que continua a ser algo muito desafiante, nada acessível e até podemos recorrer a um palavreado que induza em erro mas que é correcto: nada fácil. Mas desse tira-se uma boa recompensa. O pior disto tudo é mesmo esta obrigação que impomos a nós de termos que a comentar ou, pior ainda, descrever. “Birthing” é mais uma experiência sónica, todo um mundo sonoro, que Michael Gira promete ser o último antes de uma futura sequência de álbuns de Swans mais simplificados. Soltamos uma risada ao ter “simplificado” e “Swans” na mesma frase, mas cá aguardamos.
Aguardamos em mais um sítio isolado e rodeado de sons, com Michael Gira a exclamar-nos coisas. Não soa a um sítio confortável e realmente não o é. Lá aparecem aquelas dissonâncias alienígenas no meio da repetição, de instrumentalização que nem somos capazes de reconhecer se é realmente minimalista ou não. E, entretanto, já Gira exclama mais qualquer coisa. Da mesma forma que a repetição constante de uma palavra faz com que ela perca o sentido, aqui há uma espécie de efeito contrário, em que tanto bater numa repetição rítmica, ela acaba por ganhar uma melodia que podíamos jurar que não estava lá inicialmente. Só ultrapassar os vinte minutos em duas faixas e até conseguir uma abaixo dos dez é o mais próximo de contenção que lhes podemos acusar. Não se contiveram no tal mundo repleto de “big sound,” parafraseando o próprio Gira, para nos mexer com as emoções e com o psicológico.
É possível que encontremos realmente uma saída deste mundo que os Swans iniciaram desde o “The Seer” com a conclusiva “(Rope) Away,” ou a experiência que a antecede, de todos os discos acumulados, já nos faz alucinar coisas. O drone dessa faixa pode assemelhar-se a uma queda, com a segunda metade da canção a soar ao mais airoso que se possa encontrar na música dos Swans da última década. Como se chegássemos ao tal mundo novo. Para trás ficou experimentalismo, – nunca será Swans sem isso – paisagens sonoras difíceis de descrever, proclamações – “I Am a Tower” – a exercícios vocais – “Birthing” – de Michael Gira, o ocasional chinfrim – a introdução de “The Merge,” – pós-rock paisagista, muito ruído e até silêncio. O fim de um ciclo que realmente parece anunciar o nascimento de alguma coisa, que o título sugere. Mais uma experiência que nos deixa, além de curiosos para o futuro, tão embasbacados como sempre, que até nem olhamos ao facto de já ser o sexto álbum deste estilo que, passado um tempo, começa a fazer soar tudo muito semelhante. Souberam como nos desorientar para nem nos conseguirmos ralar com isso.