O legado de Max Cavalera é daquelas coisas que não precisa de qualquer tipo de apresentação. Um casual mais atrevido até poderá sugerir que os Soulfly, talvez aquele que seja o seu principal ganha-pão entre os seus variadíssimos projectos, são o mais inconsistente que tem. A sua marca de groove metal segue o caminho que começara no “Roots”, ainda nos Sepultura, que já alienara alguns fãs e que seguiu por outras vertentes, umas a agradar mais do que outras. O álbum “13 da sorte” é este “Chama” que parece aglomerar dentro dele essa mistela de emoções toda.
Se é misto, vamos dar voz ao cínico primeiro. Assim dá a chance do mais positivo se sobrepor. E a primeira coisa de que se pode queixar é da produção lamacenta, que lhe dá uma crueza que pode não ser recebida da mesma forma por todos. Outra pode ser o que pensa ao reparar que estão a voltar bastante às origens. Não às origens de Cavalera, não há aqui recriações do “Schizophrenia” ou do “Beneath the Remains”. É mesmo às origens dos Soulfly, portanto tem que haver muito nu metal. Mas não protagonizará esse as melhores partes? É que, quanto ao groove típico de Soulfly… O riff da introdução “Indigenous Inquisition” podia ser de alguma banda de metalcore e o riff de “Storm the Gates” até nos faz lembrar Ektomorf… Sim, aquela banda da Hungria que é vista como uma espécie de Soulfly B a batalhar no meio da tabela da segunda liga. E fazem lembrar eles? Tem mesmo que se deixar isto crescer.
E perceber que realmente o que se resgata do nu metal pode ser o que torna isto mais intenso. Quando tanto soam um pouco mais aos Sepultura, mas também aos Slipknot, isso não sugere algum abrandamento. Pelo contrário. A partir do estrondo de “Ghenna”, o disco arrebita e entra uma “Black Hole Scum” que nos suga de volta. Vemos que não é só passado, também há coisas novas como a influência industrial que acelera e fortalece estes riffs, deixando-os tão mecânicos mas também familiares – lembram-nos que coisas dos Fear Factory ou dos Ministry, dos últimos tempos, andam muito fraquinhas. E mais reconfortante que o retorno ao nu metal, é aquela influência tribal. Remonta ao “Primitive” e até mesmo ao “Roots” da melhor das formas. Quando chega a “Always Was, Always Be…” é que sentimos mesmo os velhos Soulfly de volta, e a instrumental “Soulfly XIII” já é só uma tradição. A segunda metade é mesmo superior e fica a queixa de que podia ter sido todo assim. Pedia-se um pouco mais de consistência. Talvez a toda a discografia dos Soulfly. Acaba por se reflectir neste “Chama” que é bom, mas nota-se que podia ter sido muito bom.

