Recorrendo à continuidade e reconhecendo a ordem cronológica das publicações nestas páginas, podemos reconhecer que ultimamente andamos com as disposições muito voltadas para recordar os 90s e celebrar o rock mais raivoso e sarcástico que fez juventude dançar até hoje. Agora olhamos aos Skunk Anansie, que podiam trazer-nos a “The Painful Truth” de que essa década realmente já lá vai, por muito eco que ainda faça, tanto o bom como o mau.
Porque o plano deste novo álbum, o primeiro em quase dez anos, não era o revivalismo. Pelo contrário, a intenção era actualizar-se, trazer os Skunk Anansie para esta década. E encarar as tormentas, que passam pelo envelhecimento, mas não só – o disco foi gravado enquanto recuperações de cancro de dois membros da banda eram muito recentes ou ainda decorriam. A receita é perigosa. Actos de meia-idade a tentar fazer-se relevantes a toda a força dá para o desastre, mas há aqui algo que controla e evita o descarrilamento: o facto de, mesmo com todas as adaptações sonoras actuais que aqui estão, o núcleo ser a mesma garra, o mesmo rock antémico que lhes deu tantos êxitos. Fica a parecer uma transição a meio-termo, mas essa segurança pode ser o que ajude “The Painful Truth” a suceder.
Desde o momento em que “An Artist Is an Artist” irrompe, como se viesse de uns Bloc Party mais enraivecidos, e Skin exclama as suas frustrações para com o que se espera de uma mulher na meia-idade nesta indústria, – com o mais carregado sotaque Londrino que lhe tenhamos ouvido em canção – que temos uma ideia geral do que se pode encontrar no disco: algo muito pessoal e emocional por parte de Skin, e variedade estilística. Nesse sentido, há uma omnipresença forte de sintetizadores – “This Is Not Your Life” é praticamente synthpop arockalhado e “Fell in Love with a Girl” fica-se mesmo pelo synthpop – e há reggae em “Shoulda Been You,” um esgar mais industrial em “Animal,” e uma poderosa balada pop como “Lost and Found.” Variado, orelhudo e, felizmente, não soa a crise de meia-idade. Experiência comedida mas que resultou, talvez precisamente por isso. Se ficou uma era dourada permanentemente fechada com “Post Orgasmic Chill,” então que se eleve mais esses três primeiros discos como um luxo que tivemos no rock dos anos 90 e ao qual se calhar não lhe demos todo o valor.