Temos sempre que dar uma chance ao tempo para sarar algumas feridas. As dos Queensrÿche estavam bem abertas, com uma novela a assombrá-los, sem que houvesse propriamente música de jeito para nos distrair dos dramas de separação da banda, processos judiciais e toda essa roupa suja. É uma cruz bem pesada, a que “The Verdict” tem que carregar.

Já chegámos ao cúmulo de ter, no mesmo ano, dois Queensrÿches diferentes a lançar discos – e diga-se que os dois juntos não davam um – antes do antigo vocalista Geoff Tate se contentar com os seus Operation: Mindcrime. E isto está longe de ser daqueles casos em que a coisa estava bem melhor com o vocalista original: eles já não davam uma para a caixa há uns bons anos. Já se perdeu um pouco de rumo após o “Empire” e então assim que decidiram blasfemar-se a si próprios com um “Operation: Mindcrime II,” é que tudo descambou de vez e tivemos que levar com um álbum de covers e um “American Soldier.” Não era fácil dar a volta à coisa mas “The Verdict” parece vir a cumprir muito bem essa missão. Até consegue fazer os dois discos anteriores, já com Torre na voz, parecer melhores, ao marcar um trajecto no qual recuperam progressivamente a sonoridade dos seus dias de glória.

“The Verdict” é o mais próximo que já tivemos os Queensrÿche do seu ambicioso som antigo, sem pretensiosismos que pudessem vir anexados ao ego de Geoff Tate. Todd La Torre já está mais do que bem integrado na voz da banda e injecta-lhe juventude, além de ajudar nas melodias mais poderosas que saíram desta banda em muito tempo – ouça-se “Bent.”. Trabalharam o paradoxo de recuperar a complexidade do som da banda, simplificando tudo, por vezes despindo-se apenas ao rock directo e agressivo – ouça-se “Propaganda Fashion” – mas sem negar uma recuperação daquele músculo progressivo – ouçam-se “Blood of the Levant” e “Portrait.” Não é um álbum perfeito, mas desta banda já nem se esperava tanto. Afinal a coisa tinha remédio.