As melhores coisas são feitas por gosto. Tem que ser aplicável aos Pestifer, para compreender este novo “Ravaging Fury,” cujo título acaba também por servir como uma óptima e rigorosa descrição da música que se encontra dentro. Esta malta adora death metal, só pode ser assim, para o conhecerem e o tratarem da forma que o tratam aqui neste disco.

Que não é gentileza, claro, senão isto seria um álbum de qualquer outra coisa. Este quarteto do Porto – que também é um berço com ainda subvalorizada riqueza dentro do espectro do death metal – pode ter lançamentos espaçados e, com tanto ano de estrada, ter aqui ainda o seu segundo longa-duração. As esperas podem ser longas, mas a promessa para cada regresso é a de sangue. E o quanto se refinam durante esse tempo faz com que já haja tanta maturidade neste “Ravaging Fury,” como se nos tivesse chegado da Florida, ou dos quintos dos Infernos. É death metal malicioso, que prefere a blasfémia e o macabro ao gore e à violência, – sem chegar ao quase juvenil dos Deicide, que acabam por ser uma referência sonora na mesma – e de manter essa escuridão no seu ambiente.

É o breu que rodeia a música dos Pestifer que, mantendo-se simples, – recomendar isto é com um simples “gostam de death metal, assim de raíz, bem feito e à bruta?” e basta – não deixa de ser pensada. A forma como se encontram várias referências naquilo que podia ser só uma festa de riffs, que já por aí tinha muito como satisfazer. Há técnica nas guitarras sem cair no auto-júbilo e com melodia sem partir logo para Gotemburgo. E tudo convive, mesmo conseguindo contrastar: tome-se como exemplo a forma como a instrumental “Christless Dawn” parte de uma catarse à Morbid Angel para o desenfreamento mais à Nile ou Suffocation de “A Lore of Iniquity.” Tudo junto é um só monstro. Tão medonho quanto impressionante, ali com o suficiente de familiar para que não nos assuste tanto e também nos reconforte. No final, se necessário, para limpar a alma, reza-se umas Avé Marias. A sério, eles orientam.


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