Depois do tão encantador “Desencanto,” é altura de lermos as entrelinhas, que aqui se encontram “EntreParedes.” O natural e maduro sucessor, o aprofundar de uma identidade musical e a expansão de um imaginário: do mais pessoal, para o histórico. Mantendo-se igualmente emotivo. Musicalmente, com a fusão que faz, isso já seria infalível, mas Paula Teles também sabe trabalhar com as palavras.

Recordamos logo aquilo que tanto apelou no estilo que Paula introduziu na estreia: “Prólogo” é uma luz de ribalta sobre a aqui tão virtuosa guitarra portuguesa, que continuará a marcar presença ao longo de todo o disco, normalmente a conviver com outras guitarras pesadas e catarses sinfónicas para juntar o épico ao melancólico. Não é por acaso. Não é só porque continua a tão surpreendente, mas também tão natural, fusão de rock/metal e fado. É tão por acaso como o título: o registo comemora o centenário de Carlos Paredes. E presta-lhe tributo, não só com a guitarra, mas também com a temática histórica que retrata uma história que Paredes viveu bem de perto. Tornado mais explícito ainda em “II Acto.” Quem diria que dava para tornar isto mais português ainda.

Numa altura em que esses tempos históricos se recordam como tão próximos, sentem-se já tão longínquos, e assustam a cada alarme de se voltarem a aproximar, “EntreParedes” não deixa de ser um exercício de reflexão. Mas, na terra da saudade e do fado que assim até parece ser só melancólica, também se enche de esperança. Está na voz de Paula Teles, na sua poesia e no peso triunfante da música. Profundidades que fazem “Entreparedes” brilhar um pouco mais, quando já brilharia tanto como o simples disco que continua a magnífica fusão de música pesada e fado, capaz de servir de entrada, tanto para uma coisa como para outra. E por tornar a fazer o Björn “Speed” Strid cantar em português.


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