Todos os que já conhecem os Patriarchy terão a sua diferente estória sobre o impacto que foi a descoberta da banda. Quer pelo meio de alguma procura por um catálogo de actos góticos/industriais, ou a apanhá-los nalgum festival onde estariam teoricamente deslocados, – e também aconteceu por cá – todos recordarão o interessantíssimo “rabbit hole” que foi mergulhar pelo tão explícito universo desta banda, a banalização da sua depravação, e o desconforto dos temas mais “dark”. Mas o fascínio terá chegado muito depressa e criou umas certas expectativas para este “Manual for Dying”.

As expectativas estarão correspondidas, em parte. Não por haver propriamente alguma fraqueza muito flagrante, mas não agarra nem choca tanto com aquela bizarra docilidade na total depravação que se sentia no “Asking for It” ou no “The Unself”. Sem dúvida, é para soar diferente mas parece haver mais procura de ideias do que execução delas. Tudo dentro da mesma música industrial mais sensual, que não se torna menos ruidosa por isso, com um synthpop com tanto de assombroso como de dançável, e um darkwave que nos remonta mais depressa ao ambiente fumarento de alguma masmorra fetichista do que à névoa de um crepúsculo. A voz de Actually continua doce e envolvente, misturada com as provocadoras batidas.

O que pode causar mutações nos Patriarchy não tem que vir por mal. Um olhar à imagem e às letras e a depravação mantém-se intocável, mas há experiências novas na vida do casal central da banda, como a paternidade. Podia ter alterado muito mais na sua essência ou implicar que agora se tornassem uns Patriarchy mais contidos e cuidados. A experiência da maternidade, parto, e até o seu lado negro muitas vezes negligenciado realmente inspira Actually naquelas que constarão entre as suas letras mais pessoais e íntimas. Musicalmente, pode abrir caminho para outras experiências. “Manual for Dying” é um disco com espaço para crescer. A temática, ao que parece, é para se manter intocável. Aí é que já seria outra banda.


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