Paradise Lost

Obsidian
2020 | Nuclear Blast | Doom metal gótico

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Todos os veteranos aventureiros de carreira longa e variada têm que ter o seu regresso às raízes. Umas vezes justifica-se, outras é só porque os fãs são uns chatos. E isso raramente corre assim tão bem. E depois há os Paradise Lost, de tantas facetas, capazes de surpreender todos com o regresso à garra gótica dos seus inícios, de maneira brilhante: sem andar para trás. Ouçam o novo “Obsidian” e, se o localizarem no passado da banda Inglesa, ouçam-no outra vez para corrigirem o erro.

O que também impressiona além da capacidade de se renovar, reinventar e retomar sonoridades características é a surpreendente consistência que se encontra num percurso de tantas cores diferentes como a discografia dos Paradise Lost. Há razões para muitos fãs torcerem o nariz a algumas das suas fases, mas numa análise justa, os Paradise Lost não têm um disco mau no catálogo. E eles nem são poucos. Mais impressionante ainda considerar o peso que “Obsidian” tem na tão recheada discografia e a forma como se impõe como sucessor de “Medusa,” já esse um sacana demasiado bom para o que um décimo-quinto álbum após quase trinta anos tinha o direito a ser. Este décimo-sexto, com as três décadas já completas e ultrapassadas, vem para ser um dos grandes entre todos, parece celebrar toda a multifacetada carreira e compila um pouco das várias sonoridades já experimentadas pelos Paradise Lost, sem ser “aquele” álbum dos veteranos que trazem prendas para todos.

Identifica-se de tudo, sim. Os guturais de Nick Holmes voltaram para ficar, mas aqui alternam com a voz limpa e com a parte gótica melódica para uma imediata sedução em “Darker Thoughts” e para nos deixar a cantar o refrão da bónus “Hear the Night” no meio de uma densa névoa nocturna. Aquela fase transitória meia tímida, meia genial, ali por volta do “In Requiem,” também volta e “Ending Days” serve de bom exemplo. O gótico electrónico dançável que experimentaram nos 90s? O mais improvável e difícil de voltar, mas espreita na viciante “Ghosts” e também alimenta de forma mais subtil a melancolia de “Hope Dies Young.” E “Ravenghast” é capaz de ser o malhão-mor no meio deste fantástico conjunto, como a faixa mais pesadona e retrospectiva, a causar inveja ou a impor respeito aos mais negros dos actos que fundem doom com death, tipo uns Mourning Beloveth. O que se identifica mesmo é Paradise Lost nisto tudo. E isto não é uma compilação a olhar para trás na carreira. É só mais um passo evolutivo a olhar para a frente, a fazer de conta que já não vão mais de trinta anos para trás e eles até já nem precisavam de se esforçar tanto. E se calhar até nem se esforçam…

Músicas em destaque:

Darker Thoughts, Fall from Grace, Ravenghast

És capaz de gostar também de:

My Dying Bride, Katatonia, Tiamat


sobre o autor

Christopher Monteiro

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