Melvins

Working with God
2021 | Ipecac Recordings | Sludge metal, Noise rock

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Os Melvins até podem ser daquelas bandas com fãs naquele nível de adoração chato, que já têm algum altar para o “Houdini,” inegável clássico, mas até esses sentem a saturação. São das bandas mais profícuas que existem e isso começa a sentir-se na filtragem do clássico, do bom e do dispensável. O que vale é que os Melvins são mesmo aquela banda que não quer saber. E “Working with God” é mesmo disco de uma banda que quer lá saber.

Sempre longe de serem uma banda séria, esta ainda por cima é a encarnação Melvins 1983, – Mike Dillard entra para a bateria e Dale Crover salta para o baixo – o que parece ainda realçar mais a veia juvenil da banda lendária. Logo a abrir, um belo de um tributo a “I Get Around” dos Beach Boys, aqui baptizada como “I Fuck Around” e já sabemos para o que vamos. Porém o álbum não é todo assim e se muitos já andam a fazer filtragem na discografia toda, ver-se-ão de mãos cheias a fazê-la dentro deste “Working with Good.” “Negative No No” é a primeira malha em condições, “Bouncing Rick” já traz os riffs e “Caddy Daddy” é o malhão-rei nisto tudo. Há do muito bom dos Melvins em “Working with God” para satisfazer quem leva coisas muito a sério – mas, sabe-se lá como, veio a tornar-se fã dos Melvins.

Não é que a tal “I Fuck Around,” ou a introdução de “Brian, the Horse-Faced Goon,” ambas as “Fuck You” e aquele tratamento de backmasking e a capella na bizarra “Goodnight Sweet Heart” não tenham a sua graça, porque têm. Só se gasta facilmente após umas rotações e a malta vai recorrer às malhas, aos riffalhões de “Caddy Daddy” e “Hot Fish,” à stonerzada rápida de “Hund” e, por vezes, à esquisitice – outra palavra frequente no campo lexical dos Melvins – de uns cantos gregorianos submersos na barulheira de “Boy Mike.” E lá está, os Melvins não querem saber e dificilmente algum fã não saberá para o que vai – mesmo que a imprevisibilidade faça parte da experiência. “Working with God” ficará ali no meio da tabela, no que diz respeito à vasta discografia dos Melvins. Há de tudo, o que acaba por também incluir o descartável e, por muito que exclamem “stop fuckin’ around!” no final de “I Fuck Around,” tal coisa é algo que o bando de Buzz Osborne nunca fará.

Músicas em destaque:

Bouncing Rick, Caddy Daddy, Hund

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Mudhoney, Big Business, Butthole Surfers


sobre o autor

Christopher Monteiro

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