O campo mais melódico da música de peso já está bem representado por cá? Por acaso, não falta, há muita boa opção por onde escolher. Mitologia grega? Não nos pertence, mas é algo de apelo muito universal, portanto dá para se fazer, combina facilmente com muita coisa. E desde “Persephone” que sabemos que podemos contar com os Living Tales para isso e com qualidade. Portanto já tinham as ferramentas todas na mão para o novo “Hades” partir desse mesmo ponto.
Está bastante anexado ao seu antecessor, mas a funcionar como um álbum irmão, mais do que uma mera reprodução de velhos truques. Aprimorar e amadurecer umas coisas, sem parecer que ainda estão à procura de alguma coisa, muito menos de identidade, e “Hades” volta a levar-nos para os tais campos mitológicos Gregos, montados num heavy metal mais melódico, que podia ser um metal sinfónico do que vem em muitos manuais, mas em vez disso prefere dar mais destaque a referências progressivas. Já conhecíamos isso e o tema nem é só algo vago para fazer isto parecer um álbum conceptual. “Hades” pode mesmo ser a proposta mais interessante de uma rock opera que tenhamos por cá, feita com classe e bom gosto, que bem sabemos a facilidade com que essas coisas patinam. E peso. O peso não está em causa em algum momento.
Uma forma inteligente de recorrer ao sinfónico sem fazer lembrar as bandas da catadupa de há uns anos atrás – mesmo que dê para se encontrar pontos de comparação – e até as introduções e interlúdios são utilizados mais para o fluir da estória do que para encher. Mas também são coisas que levem para uma grandiosidade à Symphony X ou Savatage, com narrações e picos emocionais e catárticos que lembrem os bons tempos em que os Queensrÿche eram mais interessantes. No final temos, então, o nosso Julgamento. “You fulfilled your journey now,” diz-nos a voz de Ana Isola, grande destaque de todo este registo e que já começa a enraizar-se cada vez mais na banda. Tudo bem, aceitamos o nosso destino. Mas não dá para ir outra vez?