Suicide Silence

Suicide Silence
2017 | Nuclear Blast | Nu metal, Deathcore, Metal alternativo

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Só um ouvinte da música mais pesada que tenha andado a hibernar debaixo de um rochedo é que não terá percebido a imensa polémica à volta do novo disco homónimo dos Suicide Silence. Ainda antes de sair, já os singles eram alvo de chacota e causa de voltas ao estômago de muito fã mais ferrenho.

O luto ao carismático Mitch Lucker já era difícil, mas “You Can’t Stop Me”, anterior álbum já com Eddie Hermida a ocupar o difícil cargo de vocalista, até era suficientemente competente para amenizar qualquer dor. A compreensível e louvável procura de experimentalismo e inovação para este “Suicide Silence” foi o que deitou tudo por água abaixo, tendo afastado os fãs que vêem nesta procura do amadurecimento uma salganhada de covers dos Deftones ou dos Korn, com produção de banda principiante.

Com o mercado do “core” – ainda para mais do deathcore – a alterar-se, cada vez mais bandas procuram alterar o som para se adaptarem, inovar e até sobreviver. Muitos querem olhar bem alto e injectar uma outra essência de estádio na sua música e tornar-se uma sensação comercial renovada. Leia-se, muitos querem ser os Bring Me the Horizon. E no próprio deathcore cada vez mais se inserem as vocalizações limpas e se abraçam influências passadas de um outro género que teve o seu tempo, o nu metal, e muitos querem fazê-lo de uma maneira minimamente inteligente e que não faça os fãs torcer muito o nariz. Leia-se, muitos querem fazer algo mais como os Whitechapel. O que é que os Suicide Silence queriam fazer? Não dá para perceber muito bem. No meio de riffs na borda do plágio, vocais limpos descoordenados e dissonantes, canções preguiçosas que se arrastam e com a total negligência para com os fãs sem que se apresente realmente algo que possa conquistar novas plateias.

E por isso o que se encontra mais neste “Suicide Silence” é um tributo às influências. Demasiado colado a elas, pisando e ultrapassando o risco onde estaria a sua própria identidade. Sendo mais directo e recorrendo a estrangeirismos, “rip offs”. Se muitos fãs ainda não recuperaram da lovechild dos Korn e dos Slipknot que foi a escandalosa “Doris” – e o seu infame falsete –, e até se reconhece que haja presença de Deftones distorcida em “Silence”, – a influência principal do riff não será antes uma máquina de lavar roupa? – qualquer resto de esperança descambará quando surge “Dying in a Red Room”, que não passa muito de Deftones da loja dos 300, ainda com “The Zero” a não se afastar muito disso. E como se isso não fosse forretice suficiente, para a “Run” ainda pedem emprestados uns riffs aos Korn que tenham sobrado por aí nas sessões do “Untouchables” ou do “Take a Look in the Mirror”, que não fossem suficientemente bons. E não, os Slipknot não apresentaram uma terceira parte da “Vermillion”, é só a “Conformity” dos Suicide Silence a meter melancolia aqui para o barulho.

Ainda o que poderá agradar mais aos fãs antigos mas tolerantes da banda será “Hold Me Up, Hold Me Down”, de longe a faixa mais forte do álbum – e, tomem isto como quiserem, mas até a “Doris” acaba por ser outro dos pontos mais altos – que, mesmo que ainda apresente alguns riffs com o selo da marca Korn, tem algo que possa captar mais a atenção de fãs e que realmente soe a algo como a sonoridade de Suicide Silence com novos acréscimos. Mas ainda não é nada que perdoe o resto, nem está aqui uma faixa para substituir as antigas. É mais o que se safa melhor aqui no meio.

Devemos levar logo os Suicide Silence, de rastos, à cruz pelo risco? Não, não é isso que se deve colocar em causa. Devem eles ou outra qualquer banda agir apenas para os fãs e só com eles em mente? Muito menos, tem que vir dos próprios e não devem forçar nada só para agradar outros. É nessa vontade de arriscar que se pode depositar todo o respeito. O resultado é que deixa muito a desejar, uma vasta maioria da legião de fãs a voltar-lhes as costas, pouco ou nada para conquistar novos fãs, fraco apelo comercial a julgar pelas paupérrimas vendas e uma previsível mudança de atitude futura, por parte de membros da banda que, após este, têm tudo pronto para lançar o inevitável “retorno à raíz”, o pedido de desculpas e o descartar desta experiência.

O que podia ser um aclamável passo arriscado em frente, acaba por soar mais a uma compilação “Best of” sub-produzida dos anos de ouro do nu metal do que a uns renovados e maduros Suicide Silence. Vão também os louvores todos para a procura de inovação e versatilidade vocal de Hermida, que nunca foi mau vocalista – e ainda há muito fã de All Shall Perish a perguntar o que raio aconteceu, que lá o gajo portava-se sempre bem – mas não tem aqui as suas melhores experiências ou o seu maior sucesso – até é naquela tal “Hold Me Up, Hold Me Down” que ele exibe realmente alguma coisa.

Podia estar aqui a derradeira prova de que os Suicide Silence sobrevivem, de que Mitch deixa um bom legado mas que já dá para saber avançar. O tal amadurecimento. Em vez disso, acabam a enxotar uma grande parte dos fãs e a colocar-se a jeito para ser facilmente ridicularizados.


sobre o autor

Christopher Monteiro

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