Till Lindemann em dose dupla em 2019, para quem tinha saudades dele. E confirma um lugar que já tinha marcado na música: quer com os seus cinco companheiros Alemães ou a fazer dupla com o Sueco Peter Tägtgren, Till tem que ser o último músico que ainda consegue o “shock value” em tempos modernos. Isso enquanto se diverte à fartazana, como acontece aqui neste “F & M” com tanto de bizarro como bem humorado. É como conhecemos o Sr. Lindemann e, tendo em conta o tal choque, não… Não sabemos explicar o que raio se passa naquele vídeo da “Knebel.”

Trocam o Inglês pelo Alemão, da estreia “Skills in Pills” para este sucessor, o que apresenta, de imediato, um risco: com a voz de Till em Alemão, isto não vai deixar de soar a Rammstein. Por vezes sim, é inevitável. Mas há muito dos mal amados Pain de Tägtgren na textura industrial deste muito multifacetado disco para que se sinta realmente um trabalho da dupla e não apenas de Lindemann – mesmo que tenha o seu nome. Os riffs de “Frau & Mann” e “Gummi” remetem-nos imediatamente para o projecto industrial do músico Sueco. Mas longe de se ficar por aí. Colocaram a javardeira do disco anterior em pausa para dar espaço a uma viagem musical variadíssima. Se “Steh auf” remete a familiaridade – mesmo dentro do campo Rammstein, o seu arranjo orquestral pode remontar a uma “Mein Herz Brennt” – é tudo falso alarme e apenas introduz um disco dificilmente rotulável.

“Knebel” é a primeira a surpreender. Bem mais do que apenas um vídeo chocante, candidata-se a canção do disco, com a sua estrutura acústica num agradável formato folk que irrompe, em susto, numa descarga repentina de peso. “Schalf ein” explora uma melancolia ao piano que ainda não conhecíamos de Till, nem nos momentos mais dramáticos dos Rammstein e esta malta ainda tem a audácia de nos levar a dançar um tango em “Ach so gern” e a buscar “Platz Eins” directamente do eurodance sem vergonha. “Wer weiß das schon” é uma ambiciosa peça de musical e o já conhecido single de ódio às ciências aritméticas que foi “Mathematik” – aqui presente como bónus na versão deluxe – explora o fenómeno trap à sua bizarra, torcida e sinistra maneira. Lá deixaram as aclamações ao aborto e às senhoras mais larguinhas do excelente e bem-disposto disco de estreia de lado e focaram-se num conceito mais dark e musicalmente mais complexo e abrangente. E superou-o. Faz com que o projecto Lindemann não seja visto como apenas uma brincadeira, por muito divertido que seja. E, lá está, dose dupla de Till num só ano, não parece haver desta reconhecível e marcante voz em excesso.