Já estávamos a ficar desconfortáveis. Aquela sensação de nos estar a faltar alguma coisa. Uma vulnerabilidade que nos faz sentir frágeis. Frio, talvez, se chegue a sentir, com a falta de tão garantido aconchego. Os ataques de pânico podiam estar próximos para alguns. É que, mais um par de meses, e completava-se um ano sem um novo disco dos King Gizzard & the Lizard Wizard! Muitos ficarão já sem saber o que fazer nessa espera, enorme para o parâmetro desta banda tão singular, e até podiam ter chamado “Chinese Democracy” a este “Phantom Island.”
No entanto, não existiu qualquer impasse para fazer os King Gizzard atrasar-se tanto. Se calhar só agora é que lhes disseram que aquele ritmo não é obrigatório. E “Phantom Island” até tem muita coisa que ficou fora do bluesy “Flight b741.” Que é a outra característica da tresloucada banda: nunca sabemos que raio de estilo vão eles tocar a seguir. Mantêm-se nas raízes do rock, mantendo os blues na manga, mas de onde tiram mais influências clássicas. Música enérgica e orquestrada, grandiosa e dançável, com a loucura e luxúria da década de 70, como quem descobre o glam rock, desce para um rock sulista, defende a pureza do rock and roll de raíz, adora funk, é tão psicadélico quanto eles gostam de ser e ainda nos introduz um movimento cultural com tanto de fantástico como de problemático: o disco.
Podia ser uma salganhada, se não soubéssemos de quem estamos a falar. Os King Gizzard & the Lizard Wizard continuam a ser um caso de estudo, de alguém que tenha tamanha proficuidade, tanta variedade de estilos e ainda não cansou nem meteu a pata na poça – com certeza, qualquer um preferirá uns discos a outros, mas também fará parte da intenção da própria banda. Da mesma forma que são capazes de sacar de uma thrashada desalmada, com a mesma facilidade fazem aqui das suas melhores imitações de Prince, dos melhores tributos a David Bowie no seu mais glam, e prestam tributo a dinossauros tão variados, – de T.Rex aos Doobie Brothers – que até nos fazem simplificar a sua rotulação, em vez de encher uma lista de subgéneros supérfluos. Conseguir manter essa frescura após 27 (!!!) álbuns é exemplo difícil de se seguir. Agora vejam lá como tratam a ansiedade dos fãs, não os deixem à espera por tantos… Meses!