Foi tão longa – e atormentadora – a espera pelo sucessor de “Forja,” que já completa dezasseis anos. E, ainda por cima, a vaga que deixaram não se preencheu. Nem dava para isso. São uma banda muito única, e que não perdeu um único passo, agora na hora de apresentar estes novos “Tormentos” novamente a apelar tanto às nossas raízes, às nossas origens, ao nosso passado pagão ainda tão presente.
Tinha que ocorrer a alguém a ideia de fundir um folclore mais português com a música pesada, após ver tantos a fazer ai pela Europa toda, a pescar às suas próprias raízes. E nós com tanta riqueza nessa área. Felizmente, várias bandas o fazem, mas ninguém ainda o faz da forma que os Hyubris o fazem. Que realmente fazem do folk a parte mais central, com o peso apenas a complementar – a enriquecer, podemos dizer. É na instrumentalização, na temática, na atmosfera que está o foco e por vezes, o peso fica mesmo em stand-by em canções mais puramente folclóricas, que nos embalam para fora do agite do nosso quotidiano urbano, para a paz de uma aldeia e para outros tempos muito longínquos.
Há essas canções e outras mais pesadas. Há um “Malmequer” para o baile e uma “Florbela” com tiques de Maiden naquela guitarra; há uma faixa-título demolidora com riff mais à Nightwish e há uma belíssima e emocional “Pedras ao Mar.” Mas não é um disco de águas separadas ou alguma tentativa de yin-yang musical. As fusões também não são meras colagens. O que os Hyubris fazem em “Tormentos,” e que já andavam a fazer no “Forja” e no auto-intitulado, é convencer-nos de que estes dois estilos, na verdade, estiveram sempre juntos. Tal é a naturalidade com que fazem isto. E também com que Filipa Mota, eterno destaque de qualquer disco de Hyubris, brinca com a voz, quer a embalar-nos, quer com acrobacias vocais como as de “Celtiberos” ou “Tormentos” para destacar apenas alguns momentos. Um disco que confirma o quão únicos são os Hyubris no nosso panorama e um respeitável exercício de “ir buscar” alguns fãs fora do espectro, através da surpresa. Agora não nos deixem à espera de um sucessor por tanto tempo!