Aerosmith

Music from Another Dimension!
2012 | Columbia Records | Rock

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Com mais de 40 anos de carreira e a manter relevância, sabemos uma coisa: Conseguiram singrar. E não restam dúvidas com este grupo, só se vivessem debaixo de um rochedo é que o nome “Aerosmith” vos causaria estranheza. O seu trabalho já está feito, míticos discos apresentaram ao mundo na década de 70, conseguiram manter notoriedade e ganhar novas legiões de fãs a cada década – colaborar com os Run DMC nos 80’s e besuntar o seu repertório em baladas nos 90’s. Está praticamente feito, não há nada mais a pedir de novo aos Aerosmith, podem trabalhar descansados e confortáveis.

O que mais faz um fã antecipar um novo disco de Aerosmith, como este “Music from Another Dimension!”, é o saudosismo e a curiosidade em ver os velhotes ainda cheios de genica para “rockar”. Mas ainda se fica aberto a desilusões. Portanto, ninguém lhes pede para se reinventar porque já não dá nem adianta andar a inventar agora, mas não é por isso que se apaga a possibilidade de apresentar um trabalho com muitas falhas. E, infelizmente, “Music from Another Dimension” apresenta muitas…

Até mesmo na parte do saudosismo, temos que tentar reconhecer qual é a parte que causa mais nostalgia. Não é muito provável que seja a mais recente repleta de baladas e da procura do mercado mais jovem. Qualquer um sonha com a parte hard rock/blues que fez de “Toys in the Attick” ou “Rocks”, entre outros, tão bons. Eles já não têm a juventude que tinham na altura, mas olhando para outros casos, há formas de trazer um som antigo de forma muito simples. Os ZZ Top fizeram-no. Os Rush andam aí a lançar grandes álbuns à antiga como se nada fosse. Os UFO, mais subvalorizados, ainda lançam discos regularmente e não deixaram a idade impor-se-lhes à frente. Até os KISS, pais de todo o azeite para alguns, regressaram para apresentar discos de hard rock puro e duro.

“Music from Another Dimension!” não vai por aí. Recai ainda muito nas baladas que aqui se encontram em demasia, numa tentativa de lembrar as pessoas da sobrevalorizada “I Don’t Want to Miss a Thing” que lhes rendeu alguns trocos na década de 90, e não vai muito atrás do génio de hinos intemporais como “Dream On”. Também procuram perseguir um pouco a vibe de um “Permanent Vacation”, recordando a sua revitalização na década de 80. Pelo meio, também se tentam situar no mercado presente e um caso evidente é o do dueto totalmente desnecessário com Carrie Underwood em “Can’t Stop Lovin’ You” – que nem sequer soa a algo que toda a banda aprovasse. E por acaso até grandes canções que realmente captam o feeling dos seus dias da velha escola há por aqui. Será esta uma compilação de tudo o que os Aerosmith têm para apresentar, um “recap” artístico? Por acaso mais parece inconsistente e dá a ideia de uns Aerosmith para trás e para frente sem ter a certeza onde se sentar.

Mas como já anda tudo tão cheio de negativismo, porque não ir agora atrás dos pontos positivos? Ainda há canções muito boas aqui – e deviam-se ter concentrado mais nessas e faziam um disco melhor – como é o caso da favorita dos fãs até então, “Out Go the Lights” e toda a essência blues que leva – quem é que não gosta de um bom cowbell? O single “Legendary Child” levava potencial suficiente para elevar expectativas e “Lover Alot” é curta e grossa – simples mas rítmica, assim que acaba há uma agitação interior que nos pode dar vontade de a ouvir outra vez. E se forem dos que realmente não acham que seja Steve Tyler o membro da banda a ter as melhores ideias, ainda há aqui muito da cabeça de Joe Perry e muitas passagens onde o que se destaca é o seu impecável trabalho de guitarra. Se forem mesmo adeptos do luso-descendente guitarrista, ainda o podem ouvir a cantar em “Freedom Fighter” e “Something” – algo pouco usual. E no meio do abuso baladeiro, o álbum fecha com “Another Last Goodbye” que é a que melhor resulta e que sempre varia um pouco.

Se olharmos a tudo de modo geral e analisarmos os dois parágrafos anteriores, conseguimos concluir qual o principal problema deste álbum: a sua extensão. 15 faixas – com uma porção excessiva de baladas pouco criativas – e quase 68 minutos é demasiado para manter a atenção e a coesão. E não compensa, eles em 35 minutos já fizeram muito mais que nesta hora-e-picos, a velha questão da qualidade contra a quantidade. Não cai na definição propriamente dita de um “mau álbum”, mas está inclinada para o decepcionante. Boas canções, mas não com força suficiente para trazer o ouvinte de volta ao disco para o voltar a “saborear”. É o dilema, deveriam os Aerosmith já ter acabado quando ainda andavam em grande ou é bom que vão lançando assim umas obras razoáveis que mostrem que ainda aí andam?


sobre o autor

Christopher Monteiro

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