Adoramos o passado, é mesmo assim tão simples. Estávamos melhor lá e o futuro já assustou menos. Há jovens que afirmam ter nascido na geração errada, e há saudades de uma era que alguns apenas viveram por pouco. Mas todos olham para trás. E os 90s também foram muito bons. Não parecia porque estavam todos muito nervosos já, mas fazia-se muito bom proveito disso. Tínhamos, entre muitas outras coisas, um rock alternativo sarcástico e niilista. Tínhamos os Garbage, por exemplo.
A introdução parece algo fútil, mas tem a sua utilidade para situar “Let All That We Imagine Be the Light.” É um disco com todos os seus esforços, faz por soar actual especialmente nas letras, mas também musicalmente não quer soar datado ou deslocado. Mas não dá para fugir. É mesmo um registo nostálgico. São os Garbage a usar-se a si próprios como referência, a recorrer às suas próprias hooks e melodias para criar as novas, a ser tão dançáveis como sempre foram. Até a electrónica mais contemporânea a que recorrem não os afasta do clima “ruidoso e dançável” do auto-intitulado de estreia. Por vezes, isso pode ser fatal. Mas não é o caso. Conseguem ainda levar-nos para os seus velhos tempos – nada aqui que substitua os clássicos, porém – e talvez com o conjunto de canções mais pegajosas desde o “Not Your Kind of People.”
Há graça no envelhecimento destes cinquentões-a-septuagenários, que não estão aqui só a brincar ao rock para se sentirem jovens. A voz de Shirley Manson mantém-se intocável e ela não se tornou a tia “cool” que vos dá dinheiro para álcool às escondidas, ainda continua a ser a miúda pela qual têm uma incontrolável crush, mas que têm medo dela. E também já eles sabem que nem só de cinismo se vive – mesmo que exista aqui negatividade à qual não dá para fugir – e permitem alguma luz, esperança e um pouco de sol. Já existem outros estados climáticos que os façam felizes. São os Garbage a esforçar-se por ser os Garbage e isso podia tornar “Let All That We Imagine Be the Light” mais fraco, se sentíssemos que eles não são capazes de largar o passado. A conclusão a que chegamos é que nós é que não conseguimos e valham-nos os Garbage desta vida para nos acudir.