Chega a CD um EP promissor que procura surpreender através do simples e do puro. Aliás, do quão longe se consegue ir sem largar essa tal pureza. Alimentado pelo black metal da raíz da segunda vaga, com inspiração medieval e ritualista, “Ordem da Estaca” promete fazer de Empalamento mais um nome a valorizar este cantinho Ibérico na procura de bom black metal no seu estado mais cru e malvado.
“Deambulação Abismal (Reino das Tormentas)” é uma introdução ambiental de carácter muito sinistro. Como se andássemos no mato a explorar e notássemos alguma presença, algo de estranho a passar-se na floresta e, por entre arbustos, contemplamos um ritual, alguma ode celebratória às trevas. Tarde demais, já nos viram e já fazemos parte do ritual assim que entra o ataque de “O Sangue Escorre.” É um assalto feito como a lei mandou há umas décadas atrás: tremolos diabólicos, que só se tornam mais diabólicos ainda quando se tornam melódicos, uns blastbeats selvagens, uma produção lo-fi medonha, isto no mais elogioso dos sentidos, e uma berraria de invocar demónios, ainda por cima na nossa língua, para mais fácil acompanhamento nosso. E não pode faltar aquele uivo arrepiante a irromper nalgum tema ou outro, como quem nos diz que estamos tramados, a nossa alma já não nos pertence.
A atmosfera também é importantíssima e é realçada pelo uso de teclados, mais regularmente a recriar um órgão, a criar os tais ambientes ritualistas, e também com surpreendentes interlúdios como o da faixa-título que quase nos faz cometer o sacrilégio de recorrer a vernáculos como “dungeon synth.” Contudo, nada chega a resvalar, em algum momento, para outro estilo. É rico e com muito bem pensado conteúdo, mas “Ordem da Estaca” é um promissor disco, sem invenções ou reinvenções, para recomendar black metal ao fã que o quer assim, sem mais vocábulos, floreados ou qualquer água que dissolva a sua essência.